Inimigos, inimigos, negócios à parte

O regime de Bashar al-Assad tem um pacto com o Estado Islâmico para o abastecimento de gás.

Na devastada Síria, a eletricidade provém em 90% da produção de gás natural. Em Damasco ou Aleppo, seja quem for que controle a cidade, ninguém quer ficar sem o abastecimento dessa fonte de energia.

O Financial Times revela na edição de sexta-feira um acordo não escrito entre os dois lados da barricada. O autodenominado Estado Islâmico controla oito centrais de produção de energia, mas são empresas do regime que as gerem. "É uma negociação ao estilo da máfia de Chicago dos anos 20. Luta-se e mata-se para influenciar o acordo, mas este não termina", diz ao FT um proprietário de uma das companhias energéticas.

O jornal britânico exemplifica o pacto com a central de gás de Tuweinan: a produção é enviada para a central termoelétrica de Aleppo. Aí, caso haja condições de laboração, 50 MW de eletricidade é enviada para a área controlada pelo regime e 70 MW fica na região afeta ao Estado Islâmico. Que fica ainda com 300 barris de gás para geradores.

Tuweinan chegou a ter 1500 funcionários, mas agora são apenas 300. Quem pode foge. Há três 'emires' na central: um negociador com Damasco, outro religioso e, o mais temido, o 'polícia da moralidade'. O diretor da central foi acusado de desrespeitar o islão e de ser leal ao regime de Assad. Foi baleado na cabeça em frente aos restantes empregados.

Os jovens que aceitam ir trabalhar nestas condições sabem que podem não regressar. "A pior parte é saber que uma vez lá não se pertence a ninguém. Quer para o regime quer para o EI uma pessoa não é de confiança", diz Ahmed, que encontrou refúgio na Alemanha.

cesar.avo@sol.pt