Já os socialistas levarão ao Presidente da República a proposta de um governo em coligação com o PCP e o Bloco de Esquerda. Fontes do secretariado de Costa explicam o que talvez menos se saiba: o PS é o grande interessado em que comunistas e bloquistas integrem o governo, única forma de ‘amarrar’ os partidos a um compromisso realmente sólido. Ao que se sabe, o acordo com Jerónimo de Sousa está mais próximo de ser assinado do que com Catarina Martins. Costa tem um respeito político pelos comunistas que não tem pelo Bloco – por um lado, são considerados mais previsíveis, o seu perfil é conservador e o que dizem que fazem é feito; por outro, ao secretário-geral do PS interessa o meio milhão de votos que os comunistas têm como fundo de garantia permanente. Existe a convicção de que a subida de votos do BE não é estrutural, votos de protesto que hoje significam uma coisa e amanhã poderão significar outra.
Ao que tudo indica existiram conversas entre o PS e o PCP antes das eleições. Quando Jerónimo, logo na noite eleitoral, assumiu que Costa só não governaria se não quisesse, já o assunto fora discutido no órgão político comunista. Na Soeiro Pereira Gomes o entusiasmo pela possibilidade de o PCP ser governo não é visível. Já na aproximação do PS ao Bloco, Costa contou com a ajuda de Paulo Pedroso, amigo de Francisco Louçã e marido de Ana Catarina Mendes, cooptada para o inner circle do secretário-geral do PS.
A demissão de Sérgio Sousa Pinto, íntimo de António Costa, foi considerada precipitada. Amigos dos dois, integrantes do secretariado e do grupo parlamentar, não valorizam os gritos de Sérgio na reunião em que bateu com a porta. Assim como valorizam pouco a ausência de membros do secretariado nas reuniões dos últimos dias: César, Centeno, Ana Catarina e Pedro Nuno Santos têm sido a sombra de Costa e nenhum pertence ao órgão máximo do partido. A constatação, somada ao programa macroeconómico elaborado em larga medida por um grupo de gente exterior ao PS, criou a ideia dentro do PSD e CDS que talvez se pudesse encontrar uma brecha nos socialistas que permitisse fazer cair Costa. O SOL sabe que não se concretizará. Um elemento da direção do último grupo parlamentar do PS, explica as razões: ‘Marcos Perestrelo e Ana Catarina Mendes controlam o aparelho e o PS é um partido dependente do poder, Costa não cairá nesta fase por via interna’.
O secretário-geral tem sido hábil a gerir os equilíbrios no seu partido. Usou Álvaro Beleza a quem tratou como ‘idiota útil’ – telefonou-lhe no próprio dia das eleições e ofereceu-lhe o estatuto de líder de uma oposição interna que, no momento e na altura própria, esmagaria para provar quem realmente manda. Beleza mordeu o isco. Quanto a Ferro Rodrigues, diz-nos um dirigente próximo aos dois, a questão é totalmente diferente. Ferro gostaria de ter tido maior protagonismo nas reuniões de formação do governo, mas Costa preferiu Centeno. Porém, o SOL sabe que Ferro Rodrigues será o nome que o PS proporá para presidir à Assembleia da República.
Na São Caetano à Lapa, sede do PSD, vivem-se momentos de mobilização. Desde os governos de Cavaco Silva, sublinha um funcionário com mais de trinta anos de colaboração, que não se via tanta agitação e vontade de participar. Passos tem recebido cartas, telefonemas e novas adesões ao partido. O ambiente é de efervescência e vontade de cerrar fileiras. Essa vontade tem já uma consequência que nos dizem ser certa: Luís Montenegro será reconduzido como líder parlamentar – em círculos próximos era conhecida a sua aspiração a ser ministro dos Assuntos Parlamentares, mas não hesitou em estar onde se combaterá ‘corpo a corpo’ nos próximos meses.