Com quase dois metros de altura, um corpo robusto e a foto mais vista e divulgada nas últimas semanas em Portugal, o suspeito da matança de um militar da GNR e de um civil, na madrugada do passado dia 11, continua a iludir as centenas de operacionais, entre Polícia Judiciária e GNR, que estão no terreno vai para três semanas. Não se está a falar de um homem-invisível, mas sim de alguém descrito como tendo «uma ligação extraordinária à natureza» e que que tem colocado essa aptidão ao serviço «da fuga às autoridades». «É um indivíduo que sabe onde procurar os alimentos e consegue alimentar-se de raízes e bagas». À medida que lhe vão traçando o perfil, as autoridade vão descobrindo facetas do suspeito, que até os mais próximos, como a família, desconheciam. Ficou-se a saber que o homem tinha uma vida dupla e que, por exemplo, chegava a sair a cavalo por períodos que podiam ir até aos dez dias, sem levar alimentos e abastecendo-se do que ia encontrando pelos caminhos. Também já está identificado o modus operandi seguido desde que baleou, aparentemente a sangue-frio, dois GNR e dois civis em Aguiar da Beira.
Conhecendo os caminhos que pisa, vai encontrando refúgio nas muitas casas abandonadas nas regiões que tem atravessado numa fuga às autoridades em que utilizou cinco viaturas e percorreu duas centenas de quilómetros em estradas de quatro distritos – Guarda, Viseu, Aveiro e Vila Real. De acordo com relatos recolhidos pelo SOL, o fugitivo terá usado luvas no primeiro crime, quando alvejou os dois militares da GNR, provocando a morte de um deles e ferimentos graves no outro.
Tentou asfixiar mulher
Depois de uma primeira semana de fuga em que, aparentemente esteve confinado à zona de São Pedro do Sul, Viseu, e posteriormente em Arouca, terra dos pais, Pedro João Dias escolheu fugir para a região de Trás-os-Montes, mais concretamente Vila Real. O último fim de semana terá sido passado em duas casas desabitadas em Arouca. Na primeira terá estado por pouco tempo, por não ter condições para se manter escondido. Os investigadores perceberam isso quando encontraram na segunda casa, também em Arouca, objetos de primeira necessidade levados da anterior. Numa casa desabitada na freguesia de Moldes, Arouca, o suspeito acabou por ter um encontro inesperado com uma das filhas do proprietário que aproveitou o fim de semana para passar por ali. Ao aperceber-se da aproximação da mulher, Pedro Dias surpreendeu-a abrindo a porta inesperadamente e arrastando-a pelos cabelos para o interior. Aí começou uma série de agressões à mulher, que foi resistindo e gritando. O SOL sabe que o suspeito tentou mesmo asfixiar a mulher, apertando-lhe o pescoço. No meio da gritaria, um vizinho acabou por se aproximar. Nem teve tempo de bater à porta. Foi também ele arrastado para o interior, acabando por ser obrigado a atar a mulher a uma cadeira, sendo ele próprio posteriormente preso por Pedro Dias, costas com costas, com a mulher. O suspeito chegou mesmo a colocar uma batata na boca da mulher para impedi-la de gritar. Depois de amarrados e empunhando uma pistola, por mais de uma vez apontou e exclamou em voz alta: «Mato, não mato…».
Os investigadores acreditam que o risco de os disparos serem ouvidos terá levado Pedro João Dias a guardar a arma. Nesse mesmo dia, o suspeito apanhou um molho de chaves ao idoso que amarrou e acabou por decidir fugir, utilizando o Opel Astra branco do homem que ficou sequestrado juntamente com a mulher. Nesse mesmo dia, já durante a tarde, o carro é avistado na zona de Vila Real, Trás-os-Montes. Por estrada, a mais de 100 quilómetros de Arouca. Segunda-feira o carro é encontrado abandonado e escondido (método já utilizado com a viatura roubada ao casal que atingiu a tiro logo na madrugada do primeiro dia, em Aguiar da Beira). Desde então as operações das autoridades centraram-se no distrito de Vila Real, em particular nas freguesias de Vale de Nogueiras e de São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa. No meio de todas estas fugas, Pedro João Dias deixou para trás roupa ensanguentada que o compromete. Trata-se das calças que usou no dia em que sequestrou e espancou a mulher na casa de Arouca.
Ao longo de mais de uma dezena de dias, os investigadores têm tentado reconstituir o perfil de Pedro João Dias e perceberam que o alegado homicida evitou desde sempre o recurso a qualquer telemóvel, uma vez que qualquer utilização de um telefone portátil poderia ser detetada numa das muitas antenas celulares espalhadas pelos territórios por onde passou. O mesmo se passa com a ausência de qualquer operação com cartões tipo multibanco. As autoridades tiveram mesmo conhecimento que o foragido acabou por ficar com 60 euros tirados à mulher que sequestrou na casa de Arouca. E até acreditam que a falta de dinheiro poderá ser um motivo que «mais cedo ou mais tarde faça o suspeito sair da toca».
Pais aguardam em suspenso
No meio de todas estas peripécias, os pais de Pedro João Dias, cuja casa em Arouca foi alvo de buscas da PJ logo na primeira semana de fuga, têm vivido cada momento em suspenso. As janelas e persianas da casa continuam fechadas e a acompanhá-los está a filha menor do fugitivo. Ocasal tem estado a seguir as operações pela televisão e aguardam que o pior possa acontecer. A presença maciça de militares em cada local por onde se suspeita que o filho esteja tem arrastado também a comunicação social, que diariamente faz diretos para ir relatando os acontecimentos.
Na sequência destas ações de busca e de todo o mediatismo que as envolve uma ideia fixou-se na mente da família: «Tememos que seja executado em direto». Coincidência ou não, na passada quinta-feira, as forças no terreno terão montado uma operação vista posteriormente pela comunicação como uma manobra de diversão para os afastar das áreas de ação específica das forças no terreno. Efetivos da Guarda cercaram as aldeias de Gache e Ludares, desde logo seguidos pela comunicação social que acreditou que algo poderia estar iminente. Em simultâneo, um outro grupo da GNR efetuava novas buscas em Carro Queimado, aldeia onde foi encontrado o Opel Astra roubado em Arouca.
*Infografias por Óscar Rocha
Além do levantamento de casas desabitadas nas zonas em que se suspeita que o fugitivo possa estar, os investigadores já pediram e analisaram o registo de chamadas recebidas e efetuadas por Pedro João Dias para saber quem são os mais próximos do homicida à data do crime, suspeitando que o homem possa estar a ser ajudado na fuga.