Todos os Dias São Bons para Roubar, novela escrita por Teju Cole (nascido no Michigan em 1975, criado na Nigéria), foi publicada em 2007 no país africano e só em 2014 em Inglaterra e nos EUA. Entretanto, a crítica e os leitores aplaudiram o primeiro e talentoso romance de Cole, Cidade Aberta (2012, PEN/Hemingway e finalista do National Book Critics Circle), cujo protagonista, Julius, se parece com X, mas antes deambula pelas ruas de NY, entre 2006 e 2008. Nos dois livros, o tema central pode ser a intimidade fictícia entre o sujeito observador e o que ele observa. Uma peregrinação por um labirinto, de regresso ao centro.
Na Nigéria, diz o protagonista, vive-se um “desfasamento em relação à realidade” mas também ao passado e o dinheiro é um “lubrificante social” que garante as hierarquias. Sociedade de patrocínio, de margens e absurdos, ali é “errado ser infeliz” ou dar muita atenção ao pormenor. Idea l’a need (basta a ideia geral) funciona como pregão nacional. De visita a amigos e a locais do passado, ao Museu Nacional (um desastre) ou a uma livraria, acompanhando as atividades comuns da família ou dos habitantes da cidade, X dá-nos um retrato próximo e raro (Cole, também fotógrafo, inclui no livro fotografias) do quotidiano em Lagos e do estado do país (em 2007). A par das desilusões, das agressões e choques de contato, a novela é percorrida pelo sentimento de pertença e pela presença de uma “pureza vital” incorruptível, uma aproximação do impossível.
Todos os Dias São Bons para Roubar
Teju Cole
Quetzal
184 págs., 16.60 euros