Setenta anos (71, em rigor) é a esperança de vida média de todos quantos nasceram em 2013. Uma vida para um ser humano, um começo de vida – com muitas dores de crescimento – para uma organização tão grande e complexa como as Nações Unidas, que emprega mais de 40 mil pessoas. Do momento da aprovação da Carta das Nações Unidas, em São Francisco, à primeira reunião do Conselho de Segurança, em Londres, ainda decorreram quase três meses. E só em fevereiro de 1946 foi eleito o primeiro secretário-geral: o norueguês Trygve Lie. Antigo ministro trabalhista, teve um papel preponderante na obtenção dos terrenos para a construção da sede da ONU, em Manhattan (graças ao apoio que obteve do milionário Rockfeller). Foi reconduzido no cargo em 1950, altura em que apresentou um ambicioso plano, de 20 anos, para alcançar a paz mundial através das Nações Unidas. Pouco depois rebenta a guerra na Coreia e o consequente envio de tropas para defender o Sul levou a que a União Soviética o deixasse de reconhecer, pelo que acabou por se demitir em 1952 do «trabalho mais difícil do mundo».
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Nobel póstumo
Lie foi substituído por outro nórdico, Dag Hammarskjöld, que também foi contestado pela URSS e igualmente não concluiu o segundo mandato. Morreu num desastre de avião, em 1961, quando seguia numa missão de paz para o recém-independente Congo (deu especial importância ao continente africano, tendo visitado mais de 20 países). Recebeu o Nobel da Paz desse ano, postumamente. Um prémio que lhe era próximo: o pai, Hjalmar, tinha sido secretário da Fundação Nobel.
Foi durante o consulado de Hammarskjöld, em 1955, que Portugal entrou como membro das Nações Unidas (ao mesmo tempo que outros 15 países, como Itália e Espanha).
O primeiro secretário-geral a cumprir os dois mandatos foi o birmanês U Thant, um budista que devido à sua neutralidade conseguiu ser uma solução de compromisso entre o bloco ocidental e o bloco soviético (Moscovo propusera uma troika formada por um representante de cada bloco e um não alinhado).
De novo um europeu aos comandos das Nações Unidas, com o austríaco Kurt Waldheim, entre 1971 e 1981. Dois mandatos não isentos de momentos controversos, mas com uma apreciação global positiva a ponto de ter obtido o apoio dos EUA e da URSS para um inédito terceiro mandato – impedido, porém, pelo veto da China. Pequim desejava um secretário-geral do terceiro mundo e a solução foi Pérez de Cuellar, do Peru. Diplomata por excelência, foi o negociador do cessar-fogo na guerra Irão-Iraque.
Ao peruano sucedeu o primeiro árabe e africano: Boutros Boutros Ghali, o único a não ser reeleito. Além dos insucessos da ONU no Ruanda, na Somália e na Bósnia, a sua liderança independente foi castigada pelos países do Conselho de Segurança.
Kofi Annan foi o senhor que se seguiu – o primeiro negro e o primeiro funcionário das Nações Unidas a chegar ao cargo. Conhecedor da máquina burocrática, introduziu reformas internas e devolveu alguma credibilidade perdida à organização. Também ajudaram os seus sucessos nos dossiês da independência de Timor-Leste ou da retirada de Israel do Líbano. Em 2001, o seu trabalho foi reconhecido com o Nobel da Paz (a par da ONU).
O atual secretário-geral, o sul-coreano Ban Ki-moon, cujo mandato termina no fim de 2016, elegeu como prioridades o desenvolvimento sustentável, os direitos das mulheres e novas reformas nas Nações Unidas.