Na Coreia do Norte, para sobreviver é necessário negar a realidade. Numa entrevista televisiva a um alto responsável do regime, que eu vi, a certa altura a luz começou a falhar. E o jornalista ocidental que fazia a entrevista, muito naturalmente, disse: “Estamos com cortes de electricidade”, ao que o norte-coreano respondeu “Que cortes?”
O serviço militar obrigatório é de dez anos. A repressão é atroz. Como eu li num artigo do Público, que trazia o testemunho de um homem que tinha fugido para Sul, e que contou o castigo (não sei qual o crime do qual foi considerado culpado): “Julguei que me iam cortar a mão, mas cortaram só um dedo. Fiquei agradecido.”
A dinastia que governa o país já vai na terceira geração. E, provavelmente, já teria acabado, não fosse o facto de deter o que nem Saddam nem Khadaffi tinham: pelo menos, uma arma nuclear.
Em Cuba, e apesar de também ser uma ditadura comunista, o regime não é paranóico. Existem presos políticos, o que é logicamente condenável, mas serão algumas dezenas de pessoas. Seria óptimo que fossem todos libertados. Existe oposição política, mas condenada pelo governo, pelo que é preciso ter cautela. Não existe liberdade de expressão, mas apesar disso o povo cubano é um povo alegre. O leite para as crianças é gratuito até aos seis anos de idade, e a população é instruída, como se comprova pelas dezenas de médicos cubanos que trabalham em Portugal. A medicina é gratuita, e de qualidade. E não é o regime que o diz, é a Organização Mundial de Saúde: apesar de Cuba ficar nos trópicos, os cubanos não morrem de doenças tropicais mas das doenças das quais morrem as pessoas nos países desenvolvidos, como cancros e AVC.
É pena que Cuba seja uma ditadura, e que as pessoas sejam tão pobres. Mas, como disse, são um povo alegre, e a cultura tem alguma expressão, como demonstrou o êxito inesperado, mas mundial, do disco de 1997 “Buena Vista Social Club”. De repente, ouvia-se algo totalmente diferente, e agradável.
Pessoalmente, não perdi a esperança que Cuba evolua para a democracia. Agora, comparar Cuba com a Coreia do Norte faz muito pouco sentido.
A solidariedade dos mais fracos
No metro de Lisboa há gente a pedir esmolas. Há aquele cego que usa uma mulher que o vai mudando de carruagem em carruagem, há a mulher cega, há quem diga que tem fome e peça ajuda “pelo amor de Deus”, e há o mais criativo, aquele jovem que toca música e leva um cão ao ombro, cão esse que leva na boca um resto de garrafa de água onde são colocadas as moedas.
Não dou sempre, e com certeza há quem nunca dê. Mas os portugueses são, em regra, um povo generoso. Um país de 10 milhões de habitantes, com dificuldades económicas, que se propõem a acolher 4.500 refugiados é porque conhece o significado da palavra solidariedade.
O embargo a Cuba
Causou alguma surpresa, nas Nações Unidas, os Estados Unidos terem votado contra uma resolução que pedia o fim do embargo norte-americano. Com esse voto, os Estados Unidos pretenderam dizer que são eles que têm a última palavra.
Esperemos que este voto contra não tenha consequências negativas na recente aproximação diplomática entre o gigante norte-americano e a ilha das Caraíbas.
Porque, afinal de contas, só há dois países no mundo onde é impossível beber Coca-Cola: a Coreia do Norte e Cuba, o que não faz qualquer sentido