Compunham o painel deste encontro anual promovido pelo German Marshall Fund, dos Estados Unidos, e pela fundação sem fins lucrativos do grupo mineiro marroquino OCP, que decorre na cidade marroquina até domingo, o ex-presidente da Nigéria Olusegun Obasanjo, o ministro das Finanças do Brasil, Joaquim Levy, o senegalês Cheikh Tidiane Gadio, fundador e presidente do Instituto de Estratégias Pan-Africanas, e o administrador do Grupo OCP e da Fundação OCP, Mostafa Terrab.
"África utiliza apenas 20% da sua terra arável, portanto, há 80% de terra arável por utilizar, e isso significa que podemos dizer que África tem potencial para se alimentar não só a si mesma, mas também para alimentar todo o mundo", sustentou Mostafa Terrab, um dos anfitriões dos Diálogos Atlânticos.
Para o administrador marroquino, "a revolução verde em África deve ser diferente da de outros países: o pequeno agricultor tem de estar no centro dela".
O ministro brasileiro secundou esta ideia, defendendo que "o Brasil efetuou uma revolução verde que envolveu grandes e pequenos produtores agrícolas".
"Por exemplo, grande parte do feijão preto, que é muito popular no país, é produzida por pequenos agricultores", indicou, observando que, nesse processo, se "criou também uma elevada consciência ambiental, uma preocupação ecológica".
"O passo seguinte será uma agricultura com emissões de dióxido de carbono reduzidas", acrescentou.
Joaquim Levy explicou que "há uns anos se dizia que a maior parte da terra do Brasil não era adequada para cultivo, por ser demasiado ácida", mas que isso não deteve o investimento na agricultura: "Depois de se fazer investigação, o solo foi tratado para ser cultivado, e isso criou riqueza e oportunidade".
"Pela nossa experiência, a agricultura é uma coisa que transforma a qualidade de vida das pessoas", referiu, apontando como exemplo que "a qualidade do feijão preto para a classe média era mais baixa há alguns anos e agora aumentou" e que "agora, já não há fome no Brasil".
Na opinião do governante brasileiro, "as perspetivas de êxito [de uma revolução verde] em África são enormes" e o Brasil "está não a ajudar, mas a participar".
Salientando que "África é o único sítio no mundo que tem de alimentar um bilião de seres humanos por dia", Cheikh Tidiane Gadio reiterou a ideia de que o continente africano tem um grande potencial agrícola.
"Temos o melhor potencial do mundo, em termos de água, da qualidade da terra, do clima. O maior problema é a liderança política", sublinhou, insistindo em que o debate do desenvolvimento agrícola do continente "é, portanto, um debate político".
O presidente da Fundação OCP vincou que "em 2050, o mundo vai precisar de África para se alimentar" e que, para responder a essa necessidade, "tem de se usar o tipo certo de tecnologia para o tipo certo de solo".
"Na OCP, não vendemos fertilizantes em África como vendemos no resto do mundo: temos de fazer testes no local, com os agricultores, para lhes vender o fertilizante adequado, na altura adequada, para determinado tipo de terra", explicou.
Mas, para que esta revolução verde seja bem sucedida, é preciso que o continente africano se una, defenderam Terrab e Gadio.
"Estamos a falar de regulamentação, de investimento na agricultura em África, mas onde está África representada em fóruns internacionais?", perguntou o administrador do grupo marroquino OCP.
Por sua vez, o presidente do Instituto de Estratégias Pan-Africanas sustentou que "a única forma de tornar a agricultura rentável em África é se esta se unir".
O ex-presidente nigeriano, que atualmente se apresenta apenas como sendo "um agricultor", concordou com os colegas de painel, dizendo ser crucial "a criação de parcerias".
Lusa/SOL