«O perfil de Sampaio da Nóvoa surge realçado nestas circunstâncias políticas», afirma ao SOL o diretor de campanha do ex-reitor da Universidade de Lisboa, Pedro Delgado Alves.
No atual contexto político, «há a necessidade de um Presidente da_República conciliador, hábil e independente, que traga estabilidade, algo que falta a Cavaco Silva e que encaixa no perfil de Sampaio da Nóvoa», garante o também vice-presidente da bancada do PS. O socialista ressalva, no entanto, que o que está em causa não é tanto o facto de haver uma maioria de esquerda na Assembleia da República – podia até ser o contrário, diz – mas sim a disposição parlamentar em que nenhuma força que concorreu às eleições conseguiu uma maioria absoluta, pelo que são precisos consensos para governar.
O discurso duro do Presidente da República na indigitação de_Passos Coelho como primeiro-ministro – ao rejeitar uma solução com BE e PCP e apelar à dissidência dos deputados do PS – foi mal recebido à esquerda, cerrando fileiras no PS, e Sampaio da Nóvoa, mais próximo dessa área política, tem conseguido cavalgar a onda. «Não precisamos de um Presidente partidário, a olhar pelo seu partido e pelos mesmos partidos. Precisamos de um Presidente isento», disse Sampaio da Nóvoa, em entrevista à TVI, na semana passada.
Antes mesmo do ataque de Cavaco Silva, ainda que implícito, ao PS e a António Costa, já Nóvoa dizia que se fosse Presidente da República «obviamente» aprovaria uma solução de Governo com estabilidade, que tivesse «maioria parlamentar». «Não seria democrático nesta fase excluir qualquer possibilidade em nome do que quer que fosse», argumentou.
A iminência de um Governo liderado pelo PS apoiado no Parlamento por BE e PCP é, portanto, vista como um trunfo nos bastidores da candidatura de Nóvoa. «Este quadro parlamentar dá-nos um novo impulso, é claro», admite ao SOL uma fonte da candidatura. Um novo fôlego que surge após alguns percalços: a divisão que a sua candidatura criou no PS – depois do apoio dos socialistas ter aparecido como certo – e o surgimento da candidata socialista Maria de Belém, que obrigou Costa a tirar o tapete a Nóvoa ao dar liberdade de voto aos seus militantes nas presidenciais.
O perfil de Sampaio da Nóvoa, que foi criticado por alguns socialistas por ser demasiado esquerdista, pode agora ser uma vantagem, por contraste com Maria de Belém, que puxa mais ao eleitorado do centro.
Belém acabou por somar alguns apoios de peso no PS, como o presidente honorário Almeida Santos e os históricos Manuel Alegre e Vera Jardim e o ex-homem forte do aparelho Jorge Coelho, mas a possível frente de esquerda, que Nóvoa já deu sinais de defender, pode trazer-lhe a simpatia de outros socialistas que se reveem nesta solução e que até agora não tomaram partido.
A contagem de espingardas entre os dois candidatos na área socialista tem sido, aliás, evidente. Primeiro Maria de Belém lançou-se na corrida eleitoral com o apoio de dois reitores: o da Universidade Nova, António Rendas e o do ISCTE, Luís Reto. Mas Nóvoa contra-atacou com apoios na área da Saúde ligados ao PS – Maria de Belém foi ministra da Saúde com António Guterres – como António Arnaut, pai do SNS, os ex-ministros Ana Jorge e Correia de Campos ou o ex-Secretário de Estado Manuel Pizarro. O rol de apoios na Saúde foi contabilizado pelo Público esta semana, uma notícia que o site da candidatura de Nóvoa coloca em destaque.
Convergências só à segunda volta
A candidatura de Nóvoa tenta desvalorizar o facto de haver várias candidatos à esquerda. «Se forem candidaturas mobilizadoras pode ser bom para contribuir para que haja uma segunda volta», afirma a mesma fonte. Nóvoa admitiu isso mesmo, na entrevista à TVI, dizendo que não acha «prejudicial» a proliferação à esquerda.
Tanto o candidato presidencial do PCP, Edgar Silva, como a candidata do BE, Marisa Matias, já admitiram que as suas candidaturas presidenciais são para ser levadas até ao fim. A desistência destes candidatos beneficiaria o ex-reitor. Mas com essa hipótese remota, Nóvoa conta, para já, que seja possível criar, nesse espaço político, «dinâmicas de convergências de segunda volta».