Acusado de matar vizinho com três tiros diz que só o queria assustar

O homem acusado de ter matado em abril um outro homem, em A-dos-Pretos, Maceira, Leiria, disse hoje ao coletivo de juízes do Tribunal Judicial de Leiria que disparou “apenas com a intenção de assustar o vizinho”.

Na sessão inaugural do julgamento, o arguido, de 45 anos, acusado de um crime de homicídio qualificado e outro de detenção de arma proibida, contou que tinha um problema com o álcool e que no dia do crime estava embriagado.

"No dia 27 [abril], cruzei-me com ele [vítima] e fui buscar a arma para o assustar. Não sei o que se passou na minha cabeça. Não queria matá-lo, só assustar", sublinhou o arguido ao juiz presidente.

O arguido acrescentou que "tinha bebido muito" e que "há alguns anos andava sempre nos copos", desde que lhe tinham tirado o subsídio de desemprego, porque "estava desesperado".

"Se pudesse voltar atrás, nada disto tinha acontecido. Estou muito arrependido. Se pudesse ter numa nova oportunidade", disse.

A mulher da vítima garantiu que o marido e o arguido "há vários anos que tinham desavenças", revelando que o suspeito "estava sempre a ameaçar", embora desconhecesse as razões das divergências.

"Ele [arguido] já tinha dado tiros no portão e, dias antes de ter dado estes tiros, disse-me: 'diga ao seu marido que se os ciganos não o matarem, quem o mata sou eu'. Ele dizia a toda a gente que um dia havia de matar o meu marido", relatou.

O arguido negou ter ameaçado várias vezes a vítima, afirmando que as desavenças já existiam há cerca de 13 anos. "Ele [vítima] dizia que o terreno era dele e que eu não era bem-vindo a esta terra. Também disse que eu tinha dado uns tiros ao portão dele, mas não fui eu."

O suspeito contou que disparou duas vezes para o arguido, mas apontou para o trator. "Não vi se acertei. Mas fui andando em direção do trator. A esposa, que não sei onde estava, nessa altura agarrou-se a mim. Meti mais dois cartuchos. Sei lá, porquê. Depois refugiei-me na mata e depois adormeci."

Já o inspetor da Polícia Judiciária afirmou não ter visto "nenhum impacto visível no trator" e quando falou com o arguido ele apresentava-se "calmo, tranquilo, sem mostrar arrependimento, até parecia estar orgulhoso".

Segundo o despacho de acusação, o arguido, detido preventivamente, mantinha com a vítima, septuagenária, "uma desavença relacionada com questões de propriedade", entendendo que aquela "queria apoderar-se de terrenos da sua pertença".

O Ministério Público (MP) adianta que duas noites antes do homicídio, o arguido "decidiu tirar a vida" à vítima, "ficando durante duas noites dentro do seu carro em vigia", perto de sua casa, "mantendo uma caçadeira guardada num terreno próximo".

No dia do crime, pelas 19:00, "foi buscar a caçadeira ao terreno onde a guardara, municiou-a e dirigiu-se" à vítima que se encontrava num terreno agrícola, a trabalhar com um trator, disparando três tiros.

Os disparos atingiram a vítima em primeiro lugar na perna direita, depois na zona dorsal junto da omoplata esquerda e, por fim, na zona frontal da cabeça, tendo sido "causa direta e necessária" da sua morte, verificada no local às 19:50, acrescenta o MP.

O acusado abandonou depois o local e refugiou-se numa zona de mato, levando consigo a arma e cartuchos, tendo sido detido pela GNR na mesma noite quando esta força de segurança estava a desenvolver a busca para o localizar.

Lusa/SOL