O jornal recorda que o Governo de Passos Coelho foi derrubado "apenas 11 dias depois da sua constituição", "mediante uma moção que pôs em evidência que os conservadores não contam com uma maioria parlamentar suficiente" e recorda o papel de Cavaco Silva ao indigitar o primeiro-ministro.
"Extravasando as funções de neutralidade exigidas pelo cargo, o Chefe de Estado português fez finca-pé em que o seu correligionário Passos Coelho formasse Governo. Neste momento, Cavaco tem duas opções: manter um executivo em funções até que se possam fazer novas eleições – nunca antes de junho de 2016 – ou indigitar um Governo da esquerda", escreve o diário espanhol.
Para o El Mundo, "as regras do sistema parlamentar português e o respeito ao resultado das urnas exigem que Cavaco opte por esta segunda opção".
No entanto, o jornal aponta que existe uma questão completamente diferente: o futuro de Portugal com um executivo "formado por uma heterogénea amálgama de partidos" [PS, PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes].
"É a primeira vez desde 1975 que os socialistas se põem de acordo com a extrema-esquerda e isso provocou o receio dos mercados sob a forma de pressão sobre a dívida e quedas da bolsa em Lisboa", adianta o El Mundo.
Entre as medidas acordadas pelas forças de esquerda, recorda o jornal, destacam-se "a reposição integral dos cortes salariais aos funcionários, um aumento gradual do salário mínimo dos 505 euros atuais para os 600 euros em 2019, atualizar as pensões e anular várias privatizações".
"Parece difícil, com este programa, cumprir os objetivos de défice fixados pela UE", diz o El Mundo, recordando que "Portugal foi resgatado pela Troika em 2011 ao receber 78 mil milhões de euros".
"Desde então, reduziu o seu défice público de 11% para 4,5% e saiu de uma recessão para registar um crescimento de 0,9% em 2014. O maior perigo agora para a economia lusa é que o regresso da esquerda ao poder, ainda que legítima, implique o regresso ao descontrolo nas contas públicas", conclui.
Lusa/SOL