Frente&Verso

Tantas vezes é depois de acontecerem as coisas que achamos que devíamos ter agido sobre elas. Colocamos no papel ou na cabeça que temos de telefonar a alguém, sair com alguém, visitar quem nos adoeceu, quem nos procura, escrever um livro ou dizer o que ficou por dizer, mas apesar de o desejarmos no íntimo…

No princípio desta semana, partiu José Fonseca e Costa. Com Kilas ‘ensinou-me’ a ver Lisboa e os seus néons – lembro-me do impacto da voz de Lia Gama e do cigarro aceso de Mário Viegas, recordo-me de ter perguntado à minha mãe se aquela Lisboa existia e se existia onde existia. Um dia, com Fernando Lopes e Cardoso Pires, vi-a com os meus próprios olhos. Uma cidade feita de anjos caídos, almas dilaceradas, whisky de malte e tabaco.

Mostraram-me numa noite no Ritz Clube que tão ou mais importante do que aquilo que se diz é o que fica por dizer. O silêncio pode ser poderoso. Um silêncio que Fonseca e Costa testou no seu excelente Cinco Dias, Cinco Noites; o silêncio para onde agora partiu.

luis.osorio@sol.pt