"Na sequência da resolução do Conselho de Ministros de hoje acaba de ser assinado entre a Parpública [entidade através da qual o Estado detinha 100% do capital do grupo aéreo] e o agrupamento Gateway o acordo de conclusão da venda direta das ações representativas de 61% do capital social da TAP», comunicou a Parpublica às redações já passava das 23:20.
À saída do encontro que reuniu os compradores da TAP e membros da Parpublica e do Governo, David Neeleman, o sócio minoritário do agrupamento que agora controla a TAP, afirmou sentir "uma grande responsabilidade e um peso muito grande para ajudar a TAP a ser a melhor empresa do mundo".
Quanto a uma possível reversão da privatização, o empresário de dupla nacionalidade, brasileira e norte-americana, sublinhou que "todo o mundo reconhece que a TAP é importantíssima para este país. Temos um Governo hoje, e qualquer Governo que tenhamos, vamos trabalhar juntos. O Governo sabe que o país precisa da TAP. E nós sabemos que precisamos do Governo".
"Vamos trabalhar juntos seja com quem for que esteja lá [no Governo]", reforçou Neeleman, reiterando acreditar que "as pessoas vão respeitar o tempo e o dinheiro que investimos com este acordo que assinámos em Junho [a 24 de Junho foi assinado o contrato de promessa de compra e venda com o Estado]".
Quando questionado sobre se tinha medo de perder o dinheiro que investiu, o fundador da transportadora aérea Azul afirmou: "Sempre tem esse risco numa companhia aérea. E esta empresa tem muita dívida. Mas também tem 12 mil pessoas que merecem uma empresa boa e um bom lugar para trabalhar".
Ainda assim, a conclusão da privatização da TAP continua a levantar muita contestação política, com o PCP a avançar para a apresentação de um projecto de lei para reverter o negócio e o Bloco de Esquerda a pedir a Cavaco Silva que intervenha. Já o PS indica que só cancelará as privatizações se não houver encargos para os cofres públicos, o que não será o caso da alienação na TAP.
Em comunicado, a Atlantic Gateway define a assinatura do contrato como um "marco na vida da TAP". E reafirma os compromissos já assumidos com o Governo – que continuará a deter 34% do capital do grupo aérea -, como cumprir as obrigações de serviço público, manter o hub em Lisboa e desenvolver a operação da companhia aérea portuguesa.
Conforme acordado ontem em Conselho de Ministros, o consórcio fica obrigado a, nos próximos cinco dias, injetar 150 milhões de euros na TAP, de forma a resolver o "colapso iminente" da tesouraria, que já estava a pôr em causa o pagamento de salários e de combustível, como afirmou o Ministro Marques Guedes. Outros 120 milhões terão de entrar até Junho de 2016 e ao longo do próximo ano serão pagas ainda tranches trimestrais de 17 milhões. No total, os novos donos terão de investir 338 milhões de euros.
"Em breve divulgaremos os nossos projetos a curto e médio prazo, em especial novos destinos com que reforçaremos a presença da TAP em especial no Brasil e nos Estados Unidos, garantindo, desde já o reforço e rejuvenescimento da frota,com novos aviões adequando-a às necessidades e características de cada mercado", promete ainda a Atlantic Gateway no comunicado divulgado esta noite.
A privatização da TAP aguarda agora o parecer definitivo e vinculativo da Autoridade Nacional da Aviação Civil. Caberá ao regulador aeronáutico avaliar se está assegurado o cumprimento das regras europeias relativamente ao controlo da Atlantic Gateway e do grupo TAP. As normas comunitárias exigem que as transportadoras aéreas da Europa seja efetivamente controladas por cidadãos ou entidades da União Europeia.