Compreender o terrorismo islâmico

Sempre entendi haver uma enorme vantagem para quem consegue compreender a parte contrária. Daí a minha perplexidade por não conseguir compreender este terrorismo islâmico, em que suicidas acham haver razões para se suicidarem, a fim simplesmente de magoarem uns povos que eles veem inteiros como inimigos. De resto, penso ser essa compreensão essencial para os…

É como, por exemplo, compreender em Portugal, nos dias que correm, haver quem só entenda uma legitimidade pós-eleitoral: ou a dos que apoiaram uma lista que, coligada, conseguiu ter mais votos do que as outras, apesar do muito que perdeu (poderia ter perdido ainda mais), e ter ficado em minoria no Parlamento; e a dos que só percebem a democracia da maioria parlamentar, sem conseguirem chegar às razões do outro lado. E falo apenas dos mais moderados: não dos radicais que apenas querem ou a direita pela direita, ou a esquerda pela esquerda, ou dos que se agarram desesperadamente ao poder, com argumentação tonta para os opositores.

Mas voltemos aos islâmicos: houve uma altura, quando se tratava de Israel contra os palestinianos, em que as coisas me pareciam compreensíveis: os israelitas ocuparam casas e territórios de um outro povo inteiro, e humilhavam-nos constantemente com uma força desproporcionada à que os palestinianos conseguiam reunir. Nessa altura, os suicidas podiam surgir-nos excessivos, mas a mim davam-me algumas razões consideráveis.

E agora? Porque nos odeiam tanto, como povo imenso e ocidental?

Temos de nos limitar a aceitar que eles entraram agora na antiga Idade Média Europeia? Mas será que os europeus, na Idade Média, odiavam tanto os seus inimigos, que produziam suicidas em série para os atacar indiscriminadamente? Só conheço a Idade Média de estudo longínquo, mas não consta que sucedesse isso.

Temos então de vê-los como reatores miseráveis a uma civilização demasiado vizinha e rica, que eles não veem maneira de atingir? Não parece razão suficiente para os suicidas.

Temos de admitir que estamos já numa enorme decadência, e que a vizinhança quer mostrar-se contra este costume Ocidental de a cadeia judicial se preocupar mais em não ofender os criminosos do que em defender as vítimas? Também isso não seria razão suficiente para os suicidas.

Não concordam com a nossa democracia? E suicidas por isso?

Lutam contra a nossa mania de exportar a democracia à nossa maneira, que não entende os princípios, valores e costumes alheios? Pois entendo a luta, mas não ainda os suicidas.

E não há nada pior para mim, do que não compreendê-los. E ter de me juntar assim à guerra santa que desencadearam – e a que me junto, naturalmente, do meu ponto de vista, e às cegas, como eles parecem fazer (e por isso igualmente diminuído, só com a vantagem moral de não ter suicidas daqueles entre os meus conhecidos).