2. Cedências. Este não é certamente o lugar para analisar cada uma da 50 cedências que o PS fez à extrema-esquerda. Uma abordagem a pinceladas largas torna claro que quaisquer intuitos reformistas do mercado de trabalho (despedimento conciliatório, negociação coletiva, por exemplo) ou da administração pública caíram; que o consumo da famílias e o consumo público irão aumentar; que o investimento privado cairá. Crucialmente, o défice externo agravar-se-á significativamente.
3. Estabilidade. Ninguém com bom senso acredita que a extrema-esquerda tenha passado um cheque em branco garantindo um apoio de legislatura a um governo PS. Não o fez nem poderia ter feito. Porque um acordo de legislatura é um contrato necessariamente incompleto. O “acordo programático” assinado não pode antecipar todas as contingências nem desafios a que um governo estará sujeito em quatro anos. A cola que aguenta alianças e compromissos quando os ventos adversos sopram é a cumplicidade fraterna, que resulta da proximidade ideóloga e de uma comum visão do futuro. Ninguém com bom senso acredita que os ‘acordos políticos’ assinados pelo PS com o BE e com o PCP pudessem por magia enterrar um século de divergências e fraturas e produzido essa cumplicidade fraterna. A extrema esquerda comprometeu-se o mínimo possível, na realidade um quase-nada. Quando chegar a altura das decisões sérias e impopulares oriundas de Bruxelas ficarão fora, protestando nas ruas, e o Governo do PS procurará o apoio do PSD e CDS. Ou seja, o PS é levado ao poder pela esquerda radical mas, para aí permanecer, está condenado a recorrer ao apoio da direita que diz radical. Estamos falados sobre estabilidade, coerência e credibilidade.