2.Importa, isso sim, procedermos à análise política e mediática do campeonato de futebol português. Como é conhecido, o grande protagonista desta época tem sido o inenarrável Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. Primeiro, com o golpe da contração de Jorge Jesus; depois, com a obtenção – sabe-se lá de onde – de dinheiro para uma política de contratação expansionista. Até aqui, nada de mais: é o futebol, e o seu mercado, a funcionar normalmente. O problema é que Bruno de Carvalho mão montou apenas uma estratégia desportiva – desenhou uma linha de atuação de conquista do poder nas estruturas da Liga e de condicionamento da arbitragem e da opinião publicada. Como já explicámos aqui no SOL, o mundo do futebol é muito parecido (se não mesmo igual) ao mundo da política: as suas lógicas funcionam da mesma forma.
3.Pois bem, Bruno de Carvalho inventou a narrativa dos vouchers e da influência decisiva que os vouchers têm na decisão dos árbitros – e marcou a agenda político-desportiva nos últimos meses. Ao mesmo tempo, colocou na televisão comentadores do Sporting que radicalizaram as suas posições, em defesa da posição oficial do clube – veja-se que até o nosso querido amigo Rogério Alves, sereno e racional por natureza e feitio, transformou-se num fanático adepto!
4.Ao repetir tantas e tantas vezes que os árbitros estão nas mãos do Benfica, e até ao propor a descida de divisão do Benfica (!!?????), Bruno de Carvalho e os comentadores ao serviço da mensagem do Presidente produziram o único efeito que queriam: que os árbitros, no seu inconsciente, por medo de eventuais insinuações, decidissem sempre in dúbio pro Sporting – na dúvida, sempre a favor do Sporting. Por esta razão, no jogo de ontem, o árbitro revelou uma tremenda disparidade de critérios a favor do Sporting. Problema? O jogo tornou-se muito mais favorável à tática de Jorge Jesus – aliás, a arbitragem serviu a tática de Jorge Jesus. Objetivamente – não é uma opinião.
5.Bruno de Carvalho percebeu que só pode chegar à vitória através de uma política desportiva e mediática agressiva. Ao contrário da estrutura do Benfica que preferiu entrar em ações judiciais inúteis contra Jorge Jesus- uma estratégia mais do que errada. Primeiro, porque reforça Jorge Jesus; segundo, porque deixa o Sporting – o verdadeiro adversário do Benfica, e não Jesus que para o Benfica deve ser irrelevante, apenas mais um ex-funcionário do clube – passar incólume. Feliz e contente, até à vitória final. E já vai na terceira vitória final!
6.A estrutura do Benfica aburguesou-se: esta expressão, da autoria de Rui Gomes da Silva, resume na perfeição o que tem sido a atuação da estrutura do Benfica. Preferem recorrer a expedientes formais inúteis, como as ações judiciais contra Jesus, do que não deixar Bruno de Carvalho a falar sozinho, liderando os acontecimentos. Olhe por olho, dente por dente, aproveitando o título do artigo, muito claro, de Rui Gomes da Silva na BOLA: se Bruno de Carvalho quer transformar o futebol num circo mediático – o Benfica deve definir uma estratégia mediática ainda mais eficaz, entalando o Presidente do Sporting. Bruno de Carvalho critica a existência de colinhos – mas, afinal, o que ele quer é um colinho privativo. Um colinho só para si…
7.Ontem, Rui Vitória esteve bem na conferência de imprensa – pena é que tenha acordado para a vida tão tarde. Dito isto, não podemos ignorar o óbvio: uma equipa que marca aos cinco minutos, não pode passar oitenta e cinco minutos a defender e a jogar como uma equipa de segunda. O Benfica é o melhor e mais importante clube de Portugal! O Benfica, com todo o respeito, não é o Vitória de Guimarães (clube de que gosto muito).
8.Factos: Estrutura do Benfica 0 X Jorge Jesus 3 (porque optaram por criar uma guerra pessoal com o treinador – em vez de rebaterem o Presidente irresponsável e trauliteiro?)