Poluição nas águas do Rio de Janeiro é mais grave do que se pensava

O nível de poluição na zona marítima do Rio de janeiro é mais grave do que se pensava. A informação é avançada pela agência norte-americana Associated Press, que está a realizar análises às águas até aos Jogos Olímpicos de 2016.

Em junho, um primeiro conjunto de testes mostrava que a percentagem de vírus na água era 1,7 milhão de vezes superior ao limite que seria considerado preocupante na Europa ou nos Estados Unidos da América.

Agora, novo exame revelou que os problemas com a qualidade da água estão mais espalhados do que se pensava e não limitados às zonas mais próximas da costa. Um dos locais mais poluídos, aliás é a lagoa Rodrigo de Freitas, onde se irão realizar competições de vela.

Segundo o virologista Fernando Spilki, da Universidade de Feevale (Rio Grande do Sul) e que está a conduzir o estudo da AP, “amostras dos locais onde vai haver provas revelam que os vírus estão presentes mesmo em locais afastados da costa, longe das fontes de poluição, e que se mantêm com elevada carga viral”.

A análise a bactérias nas águas é mais comum do que a pesquisa de vírus. Mas a AP avança que “comunidades científicas nos EUA e na Europa estão a pressionar para a criação de legislação que imponha a monitorização viral das águas”. O argumento principal é que com sal e sol, como sucede no Brasil, as baterias desintegram-se; mas o mesmo não acontece tão rapidamente com os vírus, que podem permanecer ativos durante meses ou até anos.

Segurança com bactérias não é total

Isso mesmo está patente nos testes conduzidos pela AP nas águas do Rio, que têm mostrado “níveis seguros de bactérias resultantes de matéria fecal, mas com uma carga viral idêntica à do esgoto não tratado”.

De qualquer forma, a segurança em relação às baterias não é total: os testes relevaram picos de contaminação bacteriana – casos da lagoa Rodrigo de Freitas ou da marina onde os atletas entrarão nas embarcações.

Em certos locais a situação é tão grave que se um atleta engolir o correspondente a três colheres de chá de água tem 99% de hipóteses de ficar infetado.

Aliás, já houve nota de atletas que adoeceram durante ou após as provas. Em percentagens que rondam os 7%, mas os especialistas consideram que o rastreio pode estar a ser mal conduzido.

No caderno de encargos para os Jogos Olímpicos do Rio, as autoridades brasileiras prometeram a beneficiação da rede de esgotos da cidade – onde regatos e ribeiros diariamente descarregam milhares de litros de resíduos não tratados para as águas do mar. Pouco foi feito.

O comité organizador dos Jogos reafirma que a água “está própria para a realização das provas”. Usam em sua defesa os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) adotados pelo Comité Olímpico Internacional. Testes esses que apenas determinam os níveis bacteriológicos.

A OMS não comentou o mais recente resultado do estudo da Associated Press.

teresa.oliveira@sol.pt