2.Maria de Belém tem – não há como negá-lo – um dilema: ou escolhe virar à esquerda, colando-se ao extremo-PS de António Costa e ao PCP, resumindo-se à condição de clone político de Sampaio da Nóvoa, o candidato oficial do MRPP; ou vira ao centro, assumindo uma atitude de hostilidade face ao seu partido político de origem, alienando o apoio dos socialistas e não conquistando apoios adicionais (que compensem a perda daqueloutros) ao centro, ocupado por Marcelo Rebelo de Sousa. E, na perspetiva do eleitorado moderado – desde o centro-esquerda até à direita democrática -, a comparação entre Maria de Belém e Marcelo Rebelo de Sousa é sempre favorável ao segundo candidato. Logo, Maria de Belém não tem espaço político para se afirmar.
3.A esquerda radicalizou-se e prefere um radical como Sampaio da Nóvoa (há quanto tempo não víamos um líder do PS a apoiar, ora subtil, ora expressamente, um candidato que tem o apoio oficial do MRPP?); o centro político e a direita democrática preferem Marcelo Rebelo de Sousa. O que resta para Maria de Belém? Algumas personalidades da direita ultra-conservadora (o grupo de Ribeiro e Castro no CDS); personalidades tecnocráticas; e umas réstias dos segurismo que está em vias de extinção. É curto, muito curto. Não dá para obter um resultado bom, sequer, um resultado não humilhante. E as sondagens demonstram a insustentável vacuidade política de Maria de Belém: esta candidata cai a pique, de sondagem em sondagem. E perde para quem? Para Marcelo Rebelo de Sousa – o que mostra que Maria de Belém é um OVNI (Objeto político Vazio Não Identificado) para a esquerda.
4.Dito isto, depois de esta introdução genérica sobre o vazio e falta de tino da campanha de Maria nada Belém, vamos à análise da sua primeira grande entrevista. Primeira nota: Maria de Belém está visivelmente cansada e desanimada. A televisão é fatal: ao filmar de perto o olhar de Maria Belém, ficamos com a certeza que a própria candidata está a fazer um frete. Está sem motivação. A própria candidata, no seu íntimo, falando de si para consigo, reconhece as limitações e as fraquezas enormes da sua candidatura. Pior: a candidata reconhece as suas limitações e fraquezas – e não sabe como as resolver ou superar. Nem mesmo a bênção do seu amigo Padre Vítor Melícias (agora ocupado com preocupações menos divinas com o seu ativismo no Montepio Geral) pode expiar os pecados da candidatura de Maria de Belém.
5.Segunda nota: Maria de Belém não tem discurso. Não tem discurso político. Como é possível compreender que Maria de Belém não tenha conseguido explicar as motivações da sua candidatura? Nem sequer conseguiu responder à pergunta: “porque se candidata?”. Isto é muitíssimo grave: revela que é uma candidatura para passar tempo. Maria de Belém candidatou-se para se divertir? Para ter tempo de antena? Para ter visibilidade para tentar a sua sorte na corrida à sucessão de António Costa, daqui por uns meses? Não sabemos. E a candidata também não se esforçou para responder a esta nossa (enorme) dúvida.
6.Terceira nota: Maria de Belém revelou que não quer ganhar eleições – quer perder as eleições. Belém afirmou, preto no branco, que não tem hipóteses de ganhar no próximo dia 4 de janeiro! Como é possível? Um candidato que diz que já perdeu – e apenas sonha com uma segunda volta e depois logo se vê! O que é isto? Como é possível uma candidata, consciente e com vontade efetiva de vencer, pode fixar como seu objetivo perder por pouco? Quem é que sente motivado a apoiar uma candidata que diz que vai perder? Incompreensível. Maria, mais uma vez, nada bem, ou melhor, nada Belém.
7. Quarta nota: Maria de Belém afirmou, preto no branco, que Marcelo Rebelo de Sousa dará um mau Presidente da República porque… (imagine-se) é hiperativo. O jornalista Vítor Gonçalves, perante a resposta de Maria de Belém, lança uma pergunta clarificadora: “ É um problema psicológico?” – à qual Belém responde afirmativamente, acrescentando “ é a minha opinião”. Até o jornalista Vítor Gonçalves, para disfarçar o incómodo e o ridículo da situação, soltou uma gargalhada! De manhã, vimos um Primeiro-Ministro e um Governo aprovar um Programa de Governo, depois de sofrerem uma derrota nas eleições – à noite, vimos uma candidata presidencial a humilhar-se a ela própria. Até porque é preciso ter cuidado com comentários sobre “hiperatividade psicológicos” – há muitos portugueses e portuguesas que são hiperativos (de facto!) e são credores e todo o nosso respeito.
8.Se fosse alguém de direita a dizer que Maria de Belém não pode ser Presidente da República porque fala como se tivesse uma depressão crónica, cairia o carmo e a trindade. Fascista, radical, reacionário, sem ética: diriam os comentadores e os agitadores da esquerda. Nós sabemos que Maria de Belém é uma pessoa séria e cumpridora dos deveres de urbanidade e zelo – esperamos, todavia, que o seu desespero político não a leve a renunciar aos seus valores e princípios. A Maria de Belém de ontem na RTP foi uma Maria de Belém irreconhecível: uma politiqueira pura. A continuar assim, Maria de Belém vai mesmo ter um resultado eleitoral humilhante.
9.Quinta nota: Maria de Belém surpreendeu tudo e todos com a sua resposta explicando as razões determinantes da sua candidatura. Cuidado, nosso caro leitor: se não tem um QI altíssimo, não poderá prosseguir a leitura deste texto. É que a resposta de Maria de Belém é uma erudição demasiado sofisticada, só ao alcance de uma elite de vanguarda. Maria de Belém é a melhor candidata porque…prepare-se…”porque sim”. ~
10. É verdade: Maria de Belém desceu o nível argumentativo para os padrões da pré-escola. Há dias, encontrámos no metro um jovem (de onze ou doze anos) que dizia ao seu colega que António Costa adorava o Justin Bieber porque quando o socialista fala todos se perguntam “what do you mean?” (música do cantor canadiano). Pronto, ao menos este jovem ainda no início do 2.º ciclo tem um nível argumentativo superior ao de Maria de Belém: compara a política a músicas pop. Maria de Belém diz apenas…”porque sim”. Nós poderíamos fazer o mesmo: Maria de Belém pode ser Presidenta da República? Não. Porquê? Porque não. Mas preferimos seguir outro caminho: para infantilizar a discussão política já cá estão Maria de Belém e a grande maioria dos políticos portugueses.
Enfim, até ao momento, na sua campanha, Maria não consegue fazer nada bem. Ou melhor, Maria não faz nada Belém.