Após uma primeira época de alto nível, com o clube che a atingir uma das melhores pontuações da sua história no campeonato e a garantir o apuramento para a Liga dos Campeões, o divórcio entre o treinador e a afición começou a desenhar-se antes do início da presente temporada. Como então dizia ao SOL um adepto que não perde um jogo no Estádio Mestalla, Nuno esticou a corda e, aos primeiros maus resultados, o mais certo seria sofrer as consequências.
Na base da cisão com a massa adepta estiveram as saídas do presidente executivo, Amadeo Salvo, e do diretor desportivo, Francisco Rufete, por divergências com o técnico português sobre a política de contratações. Os dois dirigentes representavam a ‘alma’ do clube vendido ao empresário de Singapura Peter Lim, enquanto Nuno era visto como um estranho – o homem que servia os interesses do empresário Jorge Mendes sob a proteção de Lim. Os adeptos culparam-no pelas saídas dos dois dirigentes históricos, no verão passado.
«Foi uma surpresa ter sido assobiado na apresentação oficial da nova época. Agora que olho para trás, o mais lógico teria sido sair logo nessa altura», sublinhou o técnico esta quarta-feira, admitindo que não foram os resultados a acender o rastilho da contestação: «Quanto estás a ganhar por 3-0 e cantam o teu nome é porque há algo para lá disso».
Num dos cânticos mais populares no estádio nos últimos tempos entoava-se ‘Nuno, vai-te já’. «Só iam contra o treinador. Estava a ser um foco de conflito», assumiu o português na hora do adeus ao Valência, com um saldo de 32 vitórias em 62 jogos oficiais (16 empates e 14 derrotas).
Trio no topo
Nuno sucede a André Villas-Boas na lista de treinadores nacionais despedidos nos cinco principais campeonatos da Europa, casos de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França. Mas a ‘fava’ também podia ter saído a Mourinho, o outro técnico português em apuros nas principais ligas do Velho Continente.
A viver um pesadelo no Chelsea depois de ter levado o clube ao título de campeão de Inglaterra, o próprio treinador português não esconde alguma surpresa, no seu círculo mais próximo, perante a invulgar tolerância demonstrada por Roman Abramovich, o dono dos blues. Seguir em frente na Liga dos Campeões – basta pontuar na receção da próxima semana ao FC Porto – passou a ser condição mínima para o treinador resistir no cargo até janeiro e, na janela de transferências de inverno, proceder a retoques no plantel.
O objetivo na Premier League é chegar aos quatro primeiros lugares, de modo a assegurar um lugar na Champions da próxima época. Revalidar o título já é visto por Mourinho como uma tarefa ao alcance de Tom Cruise, protagonista no cinema da saga Missão Impossível. Com mais de um terço de prova já cumprido, o Chelsea soma apenas 15 pontos e está a 14 da liderança.
Em contraste, Paulo Sousa eleva a Fiorentina a grande surpresa da Liga italiana, sendo neste momento encarada como candidata (não assumida) ao título, ao passo que Marco Silva e Vítor Pereira dão cartas em campeonatos periféricos. O primeiro lidera na Grécia com o Olympiacos só com vitórias (somou a 11.ª no último fim de semana e igualou o recorde da prova) e vai discutir com o Arsenal a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões; e o segundo chegou ao comando na Turquia com o Fenerbahçe, após o triunfo desta segunda-feira sobre o Trabzonspor e a derrota do Besiktas no dia anterior.
Já André Villas-Boas e Leonardo Jardim vivem situações antagónicas na Rússia e em França. O Zenit está longe do topo na corrida pelo título nacional, mas é a única equipa só com vitórias na Liga dos Campeões, enquanto o Mónaco está em risco na Liga Europa, mas segue dentro do esperado no campeonato francês, tendo em conta o desinvestimento do dono do clube: é sétimo classificado, a quatro pontos do segundo e a um dos lugares que dão acesso às competições europeias.