Marcelo garante que deixará um Portugal melhor do que aquele que herdou

1.O candidato presidencial do espaço político moderado, Marcelo Rebelo de Sousa, interveio hoje em almoço organizado pelo American Club de Lisboa. Perante uma sala repleta – certamente uma das iniciativas mais concorridas do American Club desde há muito – composta por pessoas de diversas nacionalidades (muitos portugueses, americanos, mas também brasileiros, angolanos, britânicos, japoneses, chineses…o…

2.Quais as linhas de força do discurso de Marcelo? No conteúdo, nada de novo. A estratégia – como confidenciou o seu assessor de imprensa e Rodrigo Moita de Deus já dera a entender em intervenções avulsas que tem feito – é evitar que o candidato perca votos, focando a atenção política em quatro pontos chaves.  O objectivo é falar para o país – e não para os partidos. Falar de grandes temas – e não de questões meramente político-partidárias. Quanto menos falar de questões político-partidárias, menor é o risco de desagradar à direita, sem agradar suficientemente à esquerda. Marcelo Rebelo de Sousa quer fixar o seu campo gravitacional no centro – e daí não quer sair. No fundo, é aplicar a segunda Lei de Newton à política – esperemos é que a lei de física política de Marcelo Rebelo de Sousa se verifique até ao dia 24 de janeiro. E que não haja uma atracção gravitacional que o faça tombar – consideramos que Marcelo fez os cálculos e as demonstrações correctas para se impor às leis da física política e vencer à primeira volta.

3.As quatro linhas de forças resumem-se às seguintes:

i) Manutenção dos compromissos internacionais portugueses, que passam, designadamente, pelo aprofundamento das relações luso-americanas; pelo maior envolvimento de Portugal na NATO; pela valorização das Forças Armadas e dos nossos soldados, presentes, futuros e veteranos que serviram a nossa Pátria; defesa intransigente, mas inteligente, da integração de Portugal na União Europeia – discurso que agrada à direita (que, aliás, invocou a NATO para a recomendação do voto em Marcelo) e ao PS moderado;
ii) A necessidade de o próximo Presidente ser um promotor de consensos, de estabilidade política, de ajudar os partidos a chegar a entendimentos mínimos sobre questões de importância máxima para os portugueses, como a saúde, a educação, segurança social, justiça ou mesmo administração interna (com uma palavra especial para a importância e dignidade dos portugueses que integram as forças policiais, que defendem, entre nós, a nossa segurança individual e a nossa liberdade);
iii) O próximo Presidente terá de ser um Presidente de afectos, estabelecendo ligações fortes e directas com os cidadãos portugueses. Com todos os cidadãos portugueses: não há portugueses de primeira e portugueses de segunda. Marcelo quer dar voz aos sem voz, aos mais excluídos, aos problemas daqueles que não têm acesso –ou têm acesso dificultado – aos centros de poder e de comunicação mediática – discurso que agrada a todos, desde o PCP até ao CDS;
iv) Que ele, Marcelo, é o mais apto, mais competente e está em melhores condições de exercer as funções de Presidente da República. E tem a fortíssima convicção de que será eleito à primeira volta – até porque pretende (e está cheio de ânimo e vontade) começar a trabalhar, para ajudar Portugal, o mais depressa possível. E que Portugal precisa de um Presidente activo, de grande actividade, sempre pronto para ouvir e ajudar os portugueses – e não um Presidente (ou Presidenta) cinzento, parado, muito pouco activo. O que é claramente um remoque simpático a Maria de Belém.

4.Estas ideias são boas – mas não são originais, para quem presta atenção ao que tem sido o discurso adoptado por Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos tempos. A grande originalidade, revelada no discurso hoje no American Club, foi quanto à forma. Marcelo apresenta-se como institucionalista, como estadista, como verdadeiro actor político – e já não como comentador ou animador televisivo, como qualificam depreciativamente alguns. Para nós, não é novo: sempre escrevemos que Marcelo tem dois lados – um de comentador, de pedagogo, que tenta simplificar matérias complexas para passar a mensagem e informar todos os portugueses; outro, de estadista, de institucionalista, de formalista como já ninguém é. E este segundo lado – mais desconhecido para a generalidade dos portugueses – está a revelar-se e a dominar a campanha presidencial. O que torna ainda mais risíveis as acusações da esquerda, segundo as quais Marcelo é um agitador e um animador! Marcelo, intrinsecamente, é precisamente o contrário. Basta pensar no que foi Marcelo e órgãos de gestão na Faculdade de Direito de Lisboa ou na Fundação Casa Bragança e o que está a ser nesta campanha – é um institucionalista e um formalista. 

5.Outro ponto a reter: Marcelo, em jeito de conclusão, subtilmente, afirmou, perante a plateia internacional, que é preciso acreditar em Portugal. Que ele, Marcelo, é, por natureza, um optimista realista e não tem dúvidas que daqui a cinco anos, Portugal estará muitíssimo melhor, com a crise económica e social a ser muito menos pungente. Traduzindo para português (e para bom entendedor): no término do meu mandato, deixarei um país bem melhor do que aquele que herdei. Eis o primeiro –e mais fundamental – compromisso de Marcelo para com os portugueses: tornar a nossa Pátria mais próspera, com mais oportunidades e justiça social. Marcelo tem talento, competência e capacidade para conseguir concretizar tal promessa. Assim Deus e o Povo português (cuja vontade é a voz de Deus!) o ajudem.

6.Para terminar, partilhamos um receio com os nossos leitores: será que este discurso de Marcelo – supra-partes, acima dos partidos, a falar para os portugueses e não para os candidatos – será suficiente para os debates, ainda para mais com os restantes candidatos numa onda de insultos e ataques pessoais a Marcelo? Veremos como Marcelo ajustará o tom da sua mensagem e definirá a sua postura…