Albert Rivera não gosta de cometer erros. Mas em novembro, quando debatia numa universidade com Pablo Iglésias, do Podemos, e lhe perguntaram que filósofo recomendaria para ler sugeriu Kant, “grande filósofo, grande jurista”. Segundos depois, este homem ‘normal’, líder acidental do Ciudadanos, afirmou que nunca tinha lido um livro do prussiano. Foi a anedota do mês nos meios de comunicação e nas redes sociais. Mas a sua cândida frase foi recebida com uma sonora salva de palmas do auditório – e, quem sabe, de muitos eleitores.
“Como toda a gente sabe, leio-o na piscina, na casa de banho. Não. Fico-me com o que já estudei. Temos de rir dos nossos erros, das nossas contradições” comentou agora o episódio ao El País.
O seu partido já esteve melhor nas sondagens, em segundo posto, agora disputa o terceiro lugar com o Podemos, quase empatados. Mas Rivera acabou de ter 10 mil pessoas num comício em Madrid. A sua influência é tal que “se o Economist [a revista] tivesse um voto, iria para o Ciudadanos”.
Em linha com o seu partido, diz que antes do C’s (a abreviatura para Ciudadanos) o seu voto tinha sido heterodoxo. Aliás, um jornal catalão escreveu que tinha sido militante dos populares durante três anos. Rivera desmentiu, explicou que apenas lá foi procurar informações e que fez o mesmo com os socialistas. E que já votou em ambos os partidos.
Ao El Pais, diz que o C’s é para “todos os que nem se sentem cómodos com tudo o que diz à esquerda, nem com tudo o que defende à direita”.
José María Albert de Paco, o autor de “Alternativa Laranja”, o livro que narra as desventuras e venturas do C´s, define Rivera como um político “mais dado aos slogans, ao marketing direto ou às citações da Wikiquote, do que às subtilezas”.
O Ciudadanos, partido formado na Catalunha por um grupo de intelectuais descontentes, já esteve quase a desaparecer. Rivera, assumiu os erros e levantou o partido das cinzas.
Como? Atacou as redes sociais, os programas de televisão e passou a ter mais cuidado com os candidatos que escolhia. Pôs em prática o marketing político, disciplina em que se licenciou nos EUA, após um curso de Direito em Espanha e uma pós-graduação em Direito Constitucional. Foi assim que conseguiu a sua primeira grande vitória eleitoral, em 2006, para o parlamento da Catalunha. Fez-se fotografar nu e desta forma apareceu num cartaz onde anunciava o nascimento do partido. Acabou com vários deputados no parlamento regional e o lançamento da moda dos ‘guapos’ na política espanhola, grupo a que também pertence o líder socialista Pedro Sánchez.
Diz que despertou para a política com o sequestro e assassinato de Miguel Ángel Blanco, o autarca do PP que a ETA matou em 1997. Tinha 17 anos. Nove anos depois era o líder de um partido político, pequeno e confuso, à época.
Tão baralhado quanto a sua chegada à presidência do C’s. Pouco tempo depois da fundação, debatia-se intestinamente entre os intelectuais fundadores e os novos militantes. Numa reunião caótica, levanta-se um jovem de fato e gravata, recorda María Teresa Giménez Barbat, atual eurodeputada do partido.
Rivera nasceu com o dom da oratória – enquanto estudante até ganhou um prémio nacional por causa dela. “Discursou sensatamente” e impressionou.
A sensatez foi o bilhete para integrar uma lista para os órgãos dirigentes do Ciudadanos. Só que o caos voltou a instalar-se e não havia meio de encontrar uma solução… até que alguém atirou para o ar uma espécie de ‘cara ou coroa’: ordenar a lista alfabeticamente. Albert Rivera era o primeiro do rol e pronto, aos 26 anos ficou o presidente do partido. Deu-se tão bem que apesar dos momentos difíceis ainda não foi substituído.
A verdade é que se dá bem com as dificuldades. Decidiu, por exemplo, falar em castelhano no parlamento catalão – que se esvaziava quando isso acontecia -, acabando agredido por nacionalistas e ameaçado de morte, caso não mudasse de rumo. Ficou na mesma. “ O tipo é duro” elogia um antigo militante do C’s.
Filho único de uma família operária que depois abriu uma pequena loja, estudou em colégios privados, foi duas vezes campeão da Catalunha em bruços e fez parte de uma equipa de pólo aquático. Até há pouco andava de metro e na sua Yamaha 1000, mantinha o número de telefone dos tempos em que era jurista no banco ‘La Caixa’. Tem uma filha de quatro anos e vive com a namorada em Barcelona no popular bairro da sua infância, L’Hospitalet.
“É um computador com capacidade de aprendizagem”, dizem dele. Por isso, se não for desta, vai voltar a tentar ser primeiro-ministro de Espanha. Há anos disseram-lhe que um dia iria chefiar o Governo. “Sim”, foi a resposta que deu.