A escola pública era dominante, sem ser condicionada por sindicalistas profissionais da estirpe de Mário Nogueira – eternizado na Fenprof e nos braços do PCP -, para quem o carreirismo dos professores é mais importante do que o progresso dos alunos.
No secundário, fosse o liceal ou o ensino técnico-profissional, a exigência constituía-se como principio e os exames eram encarados com naturalidade, não ‘traumatizavam’ ninguém, e os professores escolhiam a docência por vocação e não para arranjar um emprego, à falta de melhor.
Havia disciplina na escola pública, desde as carteiras do básico. Os professores faziam-se respeitar. O mau aluno corrigia-se – quando se corrigia – e não caía no regaço de zelosos psicólogos, incansáveis a perscrutar desenraizamentos sociais.
O ‘chumbo’ não forçava o professor a penosos relatórios para justificar a ‘retenção’ do aluno. Ou a passá-lo para se poupar a maçadas.
Para ‘infortúnio’ dessas gerações, a escola era um espaço de trabalho, que exigia aplicação para conseguir boas notas. Sem pieguices.
Quando chegavam à idade madura não diziam, por isso, tolices como a bloquista Joana Mortágua, para quem os exames do 4.º ano eram “uma violência” e “uma prova cega”, que “não faz as crianças mais capazes”.
Uma ‘violência’ que se traduzia, segundo dados oficiais, em quase 30% das escolas não alcançarem nota positiva nos exames do 4.º ano de Português e Matemática. Remédio santo: acabar com o exame.
Esta ‘maldade’ de sujeitar a exame os ‘infelizes’ alunos do 4.º e 6.º ano tem a assinatura do ex-ministro Nuno Crato, com a intenção – palpite-se – de elevar o nível de “rigor e exigência” no sistema de ensino. Pelos vistos, as esquerdas convivem mal com esse desiderato.
Mas a história não fica por aqui. E o PCP já garantiu que, eliminados os exames do 4º ano, tem planos para avançar com outra iniciativa legislativa no sentido de acabar, também, com os exames do 2.º Ciclo, realizados no 6.º ano de escolaridade, e do 3.º Ciclo, no 9.º ano. Um regabofe.
Para lançar poeira nos olhos, uma iluminada deputada comunista, Ana Virgínia Pereira, veio mesmo proclamar que “as provas finais assentam em premissas falsas de rigor e qualidade”, num verdadeiro hino ao analfabetismo funcional, em louvor do direito à preguiça.
No mundo cada vez mais competitivo, as esquerdas em Portugal desvalorizam, com absoluto impudor, o esforço escolar, por troca com o primado do lúdico. Na nova escola, preconizada pela Fenprof, em nome do PCP e do Bloco, não há alunos ‘traumatizados’ pelos exames, nem professores submetidos a horríveis provas de avaliação.
De acordo com esta moderna cartilha, as aulas não se destinam a ensinar e a aprender. Mas a passar o tempo
Por este andar, não virá longe o dia em que deixarão de ser publicados os rankings das escolas, para não ferir a sensibilidade dos estabelecimentos mal classificados na tabela, que gozam das coberturas do costume: localização junto de comunidades problemáticas, instabilidade e falta de motivação do corpo docente, interioridade, baixa escolaridade dos pais. Afinal, tudo fatores estimáveis, mas que não são álibis absolutos.
Como a escola pública, ano após ano, surge pior classificada, já se ouvem os arautos do facilitismo a preconizar que se acabe com os rankings…
De facto, no ranking mais favorável (há nuances nos indicadores divulgados) a melhor escola pública – a Secundária do Restelo – aparece classificada em 27.º lugar. Em 2010, segundo o Expresso, ocupava o 10.º lugar.
Algo mudou de então para cá, a beneficio do ensino privado, que tem vindo a progredir, melhorando as suas posições no ranking, em contraste com o público.
Alarmado, o Conselho Nacional de Educação chegou ao ponto de recomendar o fim dos ‘chumbos’, considerando que a “retenção” é o problema mais grave do sistema de ensino. Este órgão consultivo do Ministério entende que reprovar um aluno é uma “má solução”. Com tais conselheiros, não admira que o descalabro se agrave.
Bem pode defender Nuno Crato que “não há uma fatalidade social (…) A exigência no ensino é a grande oportunidade dos socialmente desfavorecidos”.
“Por isso – escreve ainda o ex-ministro – são importantes as provas e exames nacionais. Por isso é importante que os resultados sejam conhecidos”.
Corre o risco de ficar a falar sozinho. Pelo andar da carruagem, as esquerdas apressam-se a pôr em causa tudo o que cheire a avaliações. Nada como nivelar por baixo para ninguém se sentir diminuído.