Carta de António Costa ao Pai Natal

Meu querido Pai Natal,

No último ano, Pai Natal, pedi-lhe uma vitória retumbante nas eleições legislativas que se realizaram em Outubro deste ano. Desde pequenino, eu lhe escrevo dizendo que quero muito ser poderoso! Primeiro, pedi-lhe que me desse poder como deu ao Super-Homem; depois queria ser o Batman; depois queria ser o ajudante fiel do Tintim; depois queria ser o Chewbacca, a liderar a Millenium Falcon…e a partir dos 14 anos que lhe peço repetidamente para ser Primeiro-Ministro de Portugal! Aliás, desde os 14 anos, que lhe solicito repetidamente para ser líder do mundo! Mas como o mundo não está preparado para a minha genialidade e brilhantismo político, já me contento com o cargo de Primeiro-Ministro de Portugal.

A verdade é que, caro Pai Natal, estou muito irritado consigo: consigo estar mais irritado consigo do que com a jornalista que me abordou à entrada do carro para…imagine, Pai Natal!…fazer perguntas! É que não ofereceu a prenda da vitória nas legislativas contra o incapaz e absurdo Pedro Passos Coelho! Sinto-me envergonhado por ter perdido contra aquele direitista, ultra-liberal (peço desculpa, Pai Natal, sei que não devemos mentir no Natal: mas não resisto, pois estou demasiado habituado, para agradar aos meus camaradas, em apelidar Passos Coelho desta forma…). No entanto, eu sou daqueles meninos que se for preciso recorrer à birra para conseguir o que quero receber no Natal, recorro: fiz birra com o Passos Coelho e com o Cavaco Silva, repetindo à exaustão que não viabilizaria qualquer Governo do PSD e do CDS. Depois oferecei uma filhós e umas bolachinhas ao Jerónimo e à Catarina Martins e lá os consegui convencer a deixar-me concretizar o meu sonho: ter poder. Ser Primeiro-ministro de Portugal e, daqui a uns aninhos, Presidente de Portugal! Já estou a imaginar os meus queridos apoiantes gritarem: “ Ninguém pára o Costa! Ninguém pára o Costa!”. Pai Natal: não me ofereces o que quero, os portugueses não compreendem a minha genialidade – mas não interessa! Eu sonho, que quero, eu tenho! Ponto final!

Aliás, Pai Natal, eu não lhe deveria escrever esta missiva: o senhor não merece! O SENHOR Pai Natal tem-me faltado muito – eu é que, qualquer dia, serei, durante um ano, Pai Natal! O senhor não me deixa substituí-lo? Não interessa: farei uma aliança com os duendes e com as renas e afastá-lo-ei do poder! As crianças, em vez das fotos com o Pai Natal e das cartas ao Pai Natal, terão as fotos com o “Costa Natalício” e escreverão ao paizinho “Costa Natalício”! AH, já estou a imaginar: o mundo será tão melhor! Vou até já agendar com a “Caras” uma sessão fotográfica com a minha mulher e com os meus filhotes no Palácio do Pólo Norte! Será a minha primeira entrevista como Pai Natal ou, melhor, como “Costa Natalício”.  A minha primeira medida será revogar a letra da música que as crianças tanto trauteiam durante o Natal, conhecida como “ you’d better watch out”, “é melhor teres cuidado”.

Na verdade, a música seria mais verdadeira se fosse: “ é melhor teres cuidado, Pai Natal/ é melhor não chorares/ é melhor não fazeres birra, Pai Natal/ e eu vou dizer-te porquê/ porque o António Costa está a chegar ao poder, também no Pólo Norte/ e o teu lugar acabará, no dia em que fizer uma coligação alargada com duendes e renas!”. Os muros que separam Pai Natal e duendes e renas serão derrubados!

E, Pai Natal, por último, deixa de dizer às crianças para não serem marotas, para não se portarem mal, pro amor de Deus! É que eu tenho sido tão maroto – e mesmo assim consigo tudo o que quero! Os portugueses disseram, nas urnas, que não me queriam como seu Primeiro-Ministro – e, no entanto, já sou Primeiro-Ministro! Haverá maior marotice que esta? Tu, Pai Natal, representas a austeridade, o moralismo bacoco, os valores do “Porta-te bem!” da direita radical. EU represento um novo moralismo, o moralismo de esquerda socialista, segundo a qual o que interessa é chegar ao poder, meninos! Não interessa como!

Pois para este Natal, quero receber uma boina igual à do Che Guevarra, meu ídolo político. Assim, engano o Jerónimo de Sousa e a Catarina – enquanto negoceio com a direita! Com esta boina, destruirei o PCP e o BE – com a conivência do Jerónimo e da pobre Catarina! – e serei o senhor absoluto da esquerda! Quero lá saber do centro político: quero ser o Che Guevarra português! E ficar na história. O interesse de Portugal vem muito depois na minha lista de prioridades, Pai Natal…

Por falar no Jerónimo, o homem anda desesperado: então não é que na Carta que lhe escreveu confundiu o Ceausescu com o Clemenceau? O Clemenceu foi um Primeiro-Ministro francês, que partindo de uma concepção moderada do poder, tornou-se num radical de esquerda! Ou seja: o Clemenceau português sou eu – e não o Jerónimo! Ficou estabelecido no acordo das esquerdas que o Jerónimo poderia evocar apenas o Estaline, o Lenine e o Álvaro Cunhal! Que diabo: o que anda a tramar o Jerónimo? Pai Natal, quero para este Natal, a troca de liderança no PCP!