Entre os rumores e especulações, o seu nome tinha de facto sido apontado como ministeriável, sim, mas para a pasta da Defesa. A escolha foi tudo menos consensual entre os agentes culturais, pouco habituados a terem um político de carreira à frente do ministério, como se viu logo pelas reações à notícia nas redes sociais. No Facebook, onde o like foi entretanto substituído por uma panóplia de reações à escolha do utilizador, foram muitos os emojis de estupefação e de desconfiança.
Em defesa de João Soares para a pasta, foi apresentado o seu trabalho na Câmara de Lisboa, primeiro como vereador da Cultura (1990 a 1995), e depois como presidente (até 2002). Vamos aos factos: Lisboa foi Capital Europeia da Cultura durante a sua vereação, em 1994. Também nesses anos foram criadas a Videoteca, a Bedeteca, a Fonoteca e a rede municipal de bibliotecas. Foi inaugurada a Casa Fernando Pessoa e o Teatro Mário Viegas, foi lançada a Agenda Cultural. No seu currículo, Soares tem ainda a editora Perspetivas & Realidades, que fundou com Victor da Cunha Rego, em 1975, e que editou, por exemplo, a poesia de Jonas Savimbi, líder da UNITA, no livro Quando a Terra Voltar a Sorrir Um Dia.
Consensual ou nem por isso, em Lisboa João Soares deixou obra feita. Mas após mais de quatro anos de austeridade e de cortes, a receita não pode ser a mesma. Estaremos cá para ver quem tinha razão.