Nunca tinha acontecido numa capital europeia: dois ataques terroristas no mesmo ano. O horror dos parisienses começou pela chacina no Charlie Hebdo e no supermercado HyperCacher, a 7 de janeiro, e terminou numa sexta-feira 13, em novembro.
No final, o balanço sangrento das duas ofensivas deste grupo de franceses e belgas de origem magrebina foi de 157 mortos – um choque brutal na Europa, mas um número de vítimas do fundamentalismo islâmico que em outras paragens já não faz manchetes.
Os autores dos atentados estavam todos ligados ao islamismo radical e seguiram caminhos paralelos no seu percurso. No semanário satírico Charlie Hebdo, Saïd e Chérif Kouachi assassinaram 12 pessoas e feriram cinco com gravidade. Os irmãos, com uma infância e adolescência complicada, receberam treino da Al-Qaeda no Iémen, depois de se terem radicalizado em Paris.
Um deles, Chérif, chegou a ser preso quando tentava partir para a Síria. A prisão serviu para potenciar o seu extremismo e conhecer Amedy Coulibaly, que no dia seguinte ao ataque do Charlie sequestrou um grupo de pessoas que estavam num supermercado judaico e matou quatro delas.
Coulibaly acabou abatido pela Polícia, que tomou de assalto a loja. Os dois irmãos tiveram a mesma sorte, quando saíram a disparar de uma empresa gráfica após um cerco que durou oito horas. As armas que estes terroristas franceses utilizaram tinham sido fornecidas pelo submundo de Bruxelas.
E na capital belga foi orquestrado o ataque de novembro, ainda mais mortífero e cruel. Neste dia morreram 130 pessoas e sete terroristas.
Na casa de espetáculos Bataclan, 89 pessoas foram fuziladas. Noutro local, os terroristas não foram bem sucedidos na presumível intenção de atacar o Estádio de França – onde a seleção nacional jogava com a da Alemanha, com o Presidente francês a assistir nas bancadas –, mas acabaram por matar um emigrante português. Noutro quatro locais da cidade, também com disparos à queima-roupa, assassinaram 42 pessoas.
Com um passado idêntico aos atacantes de janeiro, os elementos das três equipas eram maioritariamente franceses e muitos deles residentes na Bélgica. Deste país veio o homem que se crê ser o organizador das ofensivas, entretanto também morto pelas autoridades: Abdelhamid Abaaoud, que além deste terá tentado organizar outros ataques no seu país natal e na França. Mais de um mês depois dos atentados, um suspeito de participação direta nos acontecimentos -– reivindicados pelo Estado Islâmico em resposta à intervenção militar francesa na Síria – ainda se encontra a monte.
As ondas de choque dos ataques implicaram fortes medidas de segurança e alterações da legislação. Num dos dias de caça ao homem aconteceu outra coisa inédita: a capital belga encerrou.