Na música que canta com Mariza diz “Não queiras saber de mim, hoje eu não me recomendo”. Tem muitos momentos assim, em que não se recomenda? De melancolia, de estar chateado com a vida?
Sempre tive. Sou músico, os músicos sofrem dessas coisas. As inseguranças assim o ditam.
É uma tristeza criativa?
Tanto pode ser criativa como pode ser destrutiva. É como a alegria, pode ser criativa, também pode ser demasiada. Mas sim, provavelmente parte da tristeza pode ir buscar lá numa zona qualquer. Há uma alegria triste ou uma tristeza alegre, posso estar tão bem disposto que até me vêm as lágrimas aos olhos. É uma coisa estranha mas que acontece. “Eh pá, que música tão bonita, este gajo está a tocar tão bem que até me emociona”. Há 25 anos tinha músicas que eu punha quando estava muita mal com a vida. Punha músicas para chorar – que eu já sabia quando começava a ouvir a música que ela levava-me para aquele mood.
Ainda se emociona a ouvir certas músicas?
Sim, sim. Depende do estado de espírito. Há alturas em que eu próprio sou surpreendido por isso. Estou a ouvir e essa coisa leva-me a um sítio onde eu não contava ir.
Ao longo destes anos já encontrou algum antídoto que o ajude a enfrentar esses momentos de tristeza?
Não sei bem. Acho que não há antídotos para isso. Há cicatrizes, isso sim, há coisas que nos que nos causticam e nos deixam mais resistentes às intempéries.