Henrique Neto tenta provar que Maria de Belém é “gato por lebre”

    

A meio da verdadeira maratona de debates presidenciais, Henrique Neto tenta elevar o tom. Já o tinha ensaiado ontem contra Marcelo e voltou a repetir a fórmula esta segunda-feira frente a Maria de Belém.

Apesar de ambos serem militantes do PS, Neto acredita ser o único candidato verdadeiramente independente. Já Maria de Belém é “gato por lebre” ou uma “candidata de fação” como já tinha dito antes.

Para o provar, afirma ter tido conhecimento no partido que a ex-ministra da Saúde ia avançar ainda antes de o anúncio ser público. “Antes de ser apresentada, eu já sabia que a candidatura ia ser apresentada”, garante.

“Sabia porque eu tinha falado com Almeida Santos, Vera Jardim, Manuel Alegre”, contrapôs Maria de Belém, que recusa ser vista como a candidata apoiada pelos que estavam contra António Costa dentro do PS. “Eu não sou uma candidata de fação”, frisa.

“Não vendamos gato por lebre” ainda insistiu Henrique Neto, recordando que até há pouco tempo Belém era presidente do Partido Socialista.

“A vida de cada um de nós fala por si. E a minha vida fala por mim”, reagiu a candidata, que garante ter defendido sempre “a palavra de honra na política”.

Henrique Neto não desperdiçou o mote e voltou à carga, lembrando a passagem de Maria de Belém pelo ministério da Saúde. “O resultado da ação da senhora candidata não é aquele que a senhora candidata nos quer fazer crer”, disse, antes de começar a citar um relatório crítico sobre o trabalho da ex-governante.

“Tem de dizer ao seu assessor que sublinhe todas as frases e não apenas algumas”, reagiu Maria de Belém, que enumerou os sucessos da sua tutela, entre os quais a criação das unidades de saúde familiar e a contratualização que fez depender de resultados o financiamento. “Cumpri no Ministério da Saúde um programa exigentíssimo que deixou marcas”, concluiu.

Mas Henrique Neto ainda tinha um trunfo: o facto de Maria de Belém ter acumulado o cargo de presidente da Comissão Parlamentar de Saúde com a consultoria ao grupo privado Espírito Santo Saúde, que já tinha sido levantado por Marisa Matias num debate com a candidata socialista.

“Uma coisa pode ser feita dentro da legalidade, mas ir contra a ética”, atirou o empresário socialista, perante os protestos de Maria de Belém, que não gostou de ver trazido o tema mesmo no final do debate, quando já não tinha tempo para se defender.

“Presumi que vinha aí este golpe”, disse a candidata, que antes tinha dito não partilhar dos “dotes divinatórios” do candidato que afirma ter previsto “o terrorismo e os problemas na União Europeia”. Para se defender, a socialista levou para o estúdio um dossiê com todas as suas atividades no tempo em que dirigiu a Comissão Parlamentar da Saúde, que não teve tempo para mostrar.

Indignada, Maria de Belém ainda lançou um: “Eu nunca tive nenhum processo por dívidas ao fisco”. Henrique Neto contrapôs com um “eu também não” e o diálogo ficou por aí, por se ter esgotado o tempo do debate. Mas Henrique Neto ainda teve tempo para pedir aos portugueses que vissem os debates para comprar os candidatos e para poderem perceber que tem “uma estratégia, ideias claras para Portugal” e não tem “telhados de vidro”.