2.Marcelo Rebelo de Sousa começou, na perfeição, o debate, afirmando que o valor primacial na tutelar no regime da adopção é o interesse superior da criança – o juízo não é o direito do adoptante em constituir o vínculo de filiação, antes é o de proporcionar uma família e condições normais de desenvolvimento (biológico, físico, mental, cultural e educacional e afectivo) às crianças. Marcelo Rebelo de Sousa foi curto, incisivo, claro na resposta. E mostrou saber e dominar, de forma cristalina, os poderes que a Constituição confere ao Presidente da República (parece ser o único candidato com esta valência), afirmando que respeitará a vontade da maioria política nesta matéria. Marisa Matias não estava (ficou visível na imagem televisiva) à espera desta resposta de Marcelo – e limitou-se a subscrever a posição do seu oponente.
3.Assim como no aborto em que Marisa Matias se colocou na posição de receber uma lição de Direito de Marcelo Rebelo de Sousa – e Marcelo encerrou a temática, dando a entender que não será , em Belém, nenhum vingador de um certo país contra outro país. Recordou que foi o Partido Socialista que convocou os dois referendos sobre o aborto – e o referendo é um instrumento por excelência da democracia activa e participada. O povo falou – está falado. O aborto não é um tema prioritário da agenda nacional – em tempos de grande divisão política, em que se exige ao Presidente capacidade de diálogo e de construção de pontes, Belém não pode ser uma agitador de causas fracturantes, estabilizadas entretanto na sociedade portuguesa, que criam ainda mais divisão entre os portugueses. Se a maioria política considerar que se deve reequacionar à abordagem jurídico-política do aborto ora vigente, então, aí Marcelo, como Presidente da República, analisará o caso com moderação e bom senso.
4.Marisa Matias, por seu turno, mostrou os seus talentos oratórios e a sua muito sólida preparação académica e política, ao explicar o mecanismo de resolução do Banif e ao expor as incongruências do modelo encontrado por António Costa – Primeiro-Ministro de quem é, aliás, grande apoiante. Note-se que nós concordamos (como já escrevemos aqui no SOL) com uma parte importante da argumentação de Marisa Matias, excepto na parte em que defende a apropriação pela Caixa Geral de Depósitos do BANIF. Esta seria uma forma encapotada de obrigar os contribuintes a pagar o banco: ou seja, Marisa Matias – e as suas companheiras do Bloco – são profundamente contraditórias. Por um lado, querem defender os contribuintes; por outro, querem onerar a Caixa com o Banif. Ora, a o dinheiro da Caixa é dinheiro dos contribuintes – como, aliás, reconheceu o Bloco de Esquerda quando criticou duramente o Governo de Pedro Passos Coelho na sua decisão de utilizar o fundo de resolução, o qual com a contribuição da Caixa Geral de Depósitos.
5.No final, Marisa Matias foi inteligente ao tentar colar Marcelo Rebelo de Sousa à direita, tentando provocar desgaste na imagem do candidato que lidera todas as sondagens (em todas as sondagens, Marcelo ganha à primeira volta). Pequeno grande problema: Marisa Matias cometeu uma gaffe monumental! Marisa afirmou, preto no branco, que não vivemos uma situação excepcional na nossa democracia. Que a situação que vivemos no presente já se verificou no passado. Ora, tamanha ignorância histórica não é desculpável: Marisa Matias deveria saber que nunca em Portugal, a força política que venceu as eleições passou a oposição – e a força política que perdeu as eleições virou Governo. E o seu partido – o Bloco de Esquerda – dera tão carinhosamente a mão ao PS…Será que Marisa, neste ponto, soltou o seu lado trotskista, revisionista da história, de acordo com o seu gosto e conveniências pessoais? Não lhe ficou bem.
6.No global, Marcelo Rebelo de Sousa a dominar larga parte do debate: estrategicamente irrepreensível, substancialmente bem, revelando saber perfeitamente a extensão e o fundamento dos poderes presidenciais, conciliador, moderado, embora por vezes pudesse ser mais assertivo. Nota: 15 valores
6.1.Já Marisa Matias, bem na telegenia, discurso frontal, escorreito, truculento sem ser trauliteira, a mostrar conhecimento dos dossiês, embora manipulando a informação ao seu gosto – nota 12 valores.
6.2. No geral, o debate, por ser o debate com mais nível e qualidade até ao momento, merece 16 valores.
Notas de outros debates:
Sampaio da Nóvoa/Edgar Silva – 9 para Sampaio da Nóvoa; 9 para Edgar Silva. Um debate que foi um namoro entre dois camaradas. Um soporífero – ou um hino ao vazio político. Como duas pessoas conseguem ocupar meia hora televisiva sem dizer nada…Até Tino de Rans faria melhor (mais uma razão para ser incompreensível a sua exclusão dos frentes-a-frente..)
Henrique Neto/Maria de Belém – um lavar de roupa suja. E nada mais. 8 para o Nostradamus da Marinha Grande; 10 para Maria de Belém.