O Professor Edgar tenta desmontar o ‘Cavaco a cores’

Marcelo começou o debate com um elogio ao trabalho social “notável” feito pelo “Professor Edgar Silva”, como fez questão de lhe chamar até ao fim do frente-a-frente. O tom que aquele que há anos é conhecido como “o Professor” queria dar era de aproximação, mas o candidato do PCP não lhe facilitou a vida.

O comunista ia com o discurso afinado para trazer para o debate o que anda há semanas a correr as redes sociais: a mensagem de que Marcelo é, afinal, um “Cavaco Silva a cores”.

Para Edgar Silva, não há  dúvidas de que Rebelo de Sousa em Belém “será uma continuidade de Cavaco”. Todas as demonstrações de afastamento da direita feitas pelo antigo comentador são, por isso, apenas “tática eleitoral”. O antigo padre natural da Madeira recorreu mesmo ao jargão da arte das pescas para explicar que o que Marcelo faz não passa de uma “arte de engodo” para “aliciar o pescado”.

Para o provar, o candidato do PCP citou uma entrevista de Passos Coelho ao Público que, em 2015, dizia que não o incomodava “nada a tática eleitoral que o professor Marcelo escolha”.

Na resposta, Marcelo tentou manter o tom cordial, elogiando o “Professor Edgar Silva” por não fazer um ataque baseado na sua personalidade, mas críticas “políticas”. A pouco mais de meio da maratona de debates, Rebelo de Sousa já acusa o cansaço de quem tem sido atacado pela sua maneira de ser. “Agora toda a gente armou em psicólogo”, desabafou, voltando sempre a afastar-se de Cavaco e a frisar que a “recomendação de voto” de PSD e CDS não o vinculam “em nada”.

A prova, diz Marcelo, está nos comentários que fez ao longo de 15 anos de análise política televisiva semanal, dando muitas vezes notas negativas a Cavaco e a Passos.

Edgar Silva voltou, por isso, a recorrer aos recortes de jornal para citar Marcelo que, segundo o Expresso, terá dito em 2008 que os seus “comentários são sempre tendencialmente favoráveis ao PSD, mesmo quando não parecem”. O professor replicou que foi mal citado pelo semanário, mas Edgar não recuou.

Marcelo tinha ainda uma cartada, para explicar por que é que será o Presidente independente – “não sou o candidato da direita”, tinha dito no início do debate – capaz de juntar todos os portugueses. “Sabe quem restabeleceu no meu partido a relação com o PCP ao fim de 35 anos? Fui eu. Acha que foi fácil?”, atirou o ex-líder social-democrata.

A tirada deu-lhe vantagem, como já tinha acontecido quando aproveitou a insistência de Edgar para saber se voltaria a candidatar-se à liderança do PSD. Marcelo afastou a ideia, mas devolveu a pergunta: “Pondera candidatar-se à liderança do seu partido?”. A resposta tímida do comunista, que se limitou a dizer que a escolha “cabe aos militantes” fez o candidato do centro-direita sorrir.

Mais tranquilo, Marcelo voltou ao tom inicial, elogiando até algumas das ideias de Edgar Silva sobre o sistema bancário. “Tem toda a razão”, dizia, quando o comunista lamentava os quatro mil milhões de euros que os contribuintes já “despejaram” para o Banif.

Rebelo de Sousa evitou de resto alongar-se sobre Carlos Costa ou sobre se a melhor solução será vender o Novo Banco ou mantê-lo no Estado – como defende Edgar Silva – , preferindo lembrar que a decisão será do Governo e que a alienação fará sentido se houver “condições positivas”.

margarida.davim@sol.pt