Lopetegui e a nova tendência no Dragão

Espanhol é o oitavo treinador a sair a meio da época na presidência de 34 anos de Pinto da Costa. Mas duas das apostas falhadas foram nos últimos três anos.

Colocar o lugar à disposição? «Não, não e não. Eu tenho força para continuar. Tenho uma responsabilidade e aceito-a de bom grado. São momentos duros, difíceis, que fazem parte de uma travessia do êxito e o que temos que fazer é superá-los», disse Lopetegui na última conferência a seguir ao empate com o Rio Ave no campeonato, na quarta-feira, que acabava de atirar o dragão para o terceiro lugar, ultrapassado pelo Benfica e atrasado quatro pontos em relação ao líder Sporting. Foram as últimas palavras públicas do espanhol. Foi despedido, a SAD do FC Porto já informou a CMVM e só falta mesmo acertar pormenores (o treinador tem contrato até 2017 e por isso direito a receber 5 milhões de euros).

Rui Barros vai orientar o jogo no Bessa, no dérbi com o Boavista na próxima ronda, e fala-se, para uma solução mais longa, nos nomes de Nuno Espírito Santo ou Luís Castro, caso o plano de resgatar Villas-Boas ao Zenit falhe. O treinador que passou pelo Dragão em 2010-11 deixou saudades e já anunciou a sua saída do clube russo, mas só no final da temporada quando terminar o contrato.

Como chegámos aqui? O empate com os vila-condenses (1-1) foi o último de uma série negra que começou com a derrota em casa para a Taça da Liga (Marítimo, 1-3) e a passagem por Alvalade com uma dolorosa derrota 2-0 ante o Sporting, que o fez cair do primeiro lugar. Foi a primeira vez que Lopetegui experimentou – e de forma fugaz, durou apenas uma jornada – a liderança isolada desde que chegou a Portugal na época passada.

Foi essa temporada de estreia, 2014-15, que começou a fazer o técnico perder o brilho: terminou em branco, sem títulos (o campeonato fugiu para o Benfica, a Taça de Portugal para o Sporting e a Taça da Liga para o Braga), algo pouco comum no reinado de Pinto da Costa. Agora, depois de uma entrada tenebrosa em 2016, a porta de saída escancarou-se.

O primeiro sinal de alarme tinha sido dado na quinta-feira, devido à ausência do presidente, Pinto da Costa, e do director-geral da SAD, Antero Henrique, do treino da equipa. Algo inédito a seguir às derrotas com Chelsea, Marítimo e Sporting. Ao final tarde, a imprensa espanhola já avançava com o despedimento do técnico e na sexta-feira de manhã (às 10h28) o FC Porto informava a CMVM, com uma nota oficial da rutura com o espanhol. Ponto final.

É o segundo tiro ao lado de Pinto da Costa nos últimos tempos. É dos presidentes com maior longevidade no futebol mundial (tomou a presidência do FC Porto em 1982) e as especulações sobre a perda de qualidades a escolher treinadores têm sido muitas. Sempre frio no juízo na altura de tomar escolhas difíceis, parece que a mão começa a falhar. O despedimento de Julen Lopetegui dá razão aos mais cépticos – depois de Paulo Fonseca há três anos, seguiu-se o espanhol. Há uma nova tendência no Dragão?

A lista começou com Quinito, substituído por Artur Jorge em 1988-89. Seguiram-se mais sete até Lopetegeui. Pelo meio foram despedidos Ivic, por Robson (1993-94); Fernando Santos, por Octávio e este por Mourinho na mesma época (2001-02); Del Neri, por Victor Fernández e este por Couceiro (2004-05); Co Adriaanse por Jesualdo (2006-07); e Paulo Fonseca por Luís Castro (2013-14).

Na história do campeonato nacional, apenas cinco treinadores foram campeões quando entraram a meio da época (ver quadro).

O último técnico a consegui-lo foi Inácio, quando quebrou o maior jejum da história leonina, quando esteve 18 anos sem ganhar o título. Recuperou os 4 pontos que tinha de desvantagem para o líder. Tal como está o FC Porto agora.

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