Ora, no primeiro caso, parece difícil provar algo tão substancial ao fim de um escasso mês de governação. E, no segundo caso, será voluntarismo e precipitação a mais anunciar-se o fim da austeridade quando se mantêm, para a maioria dos portugueses, cortes generalizados nos salários e pensões e em quase nada se aliviou a pesadíssima carga de impostos pagos pelos contribuintes.
Mas é verdade que António Costa e o PS dão ideia de terem entrado em fase de pré-eleitoralismo ativo, com uma intensa campanha de agitação e propaganda política. Seja sobre o aumento de 30 euros do salário mínimo, a subida de 2,5 euros nas pensões mais baixas, o regresso já este ano de mais quatro feriados ou a hipótese de alargamento das férias de 22 para 25 dias. São medidas limitadas e parcelares que não bastam para decretar que a austeridade acabou. Mas representam bastante para quem pensar que pode ser favorável precipitar eleições antes do final de 2016.
Costa refere, ainda, no seu artigo, a crise do Banif e «a estabilidade do sistema financeiro, que com evitável dramatismo foi necessário enfrentar». Mas o primeiro-ministro continua sem explicar o que levou o Governo PS a fazer os contribuintes pagarem uma fatura de 2.500 a 3.000 milhões de euros na resolução do Banif (cabendo à restante banca apenas uma parcela de 489 milhões), quando na resolução do BES os 4.900 milhões de euros aí injetados constituem uma fatura exclusiva das instituições financeiras (bancos, caixas económicas, etc.).
Como é que Costa se incomodava tanto, em outubro de 2014, com «a existência de um risco», no caso do BES, de que «os contribuintes sejam afetados» (e só o podiam ser, por via indireta, com a parcela da CGD no fundo de resolução) e, agora, atira alegremente com o ónus de 3.000 milhões sobre esses mesmos contribuintes, poupando os bancos e instituições financeiras?
Importa-se de explicar melhor?