Duas semanas de campanha confirmaram o estatuto que Sampaio da Nóvoa reclamava para si após o debate com Marcelo Rebelo de Sousa ainda na pré-campanha:_o de challenger da candidatura do ex-líder do PSD e ex-comentador.
É certo que só no domingo se saberá se o independente conseguirá fazer mossa na caminhada de Marcelo, obrigando-o a disputar uma segunda volta. Mas o ex-reitor da Universidade de Lisboa, em todo o caso, poderá reclamar para si uma vitória: foi a sua candidatura a criar a dúvida sobre se o candidato que corre com o apoio do PSD e do_CDS vence ou não à primeira volta (é o mais bem colocado nas sondagens) e não a de Maria de Belém, a «candidata de fação» do PS que chega ao fim da corrida fragilizada com a morte de um apoiante de primeira hora, Almeida Santos, e a revelação de que o seu nome figura entre o grupo de 30 deputados que defendeu junto do Tribunal Constitucional a subvenção vitalícia para ex-titulares de cargos políticos.
O ex-reitor passou ao lado do assunto no debate desta semana na RTP, até porque Maria de Belém falhou o último encontro. Mas à saída Nóvoa fez questão de corrigir. Manifestou «respeito pela decisão do TC» e deixou a crítica «em relação à possibilidade de se manterem subvenções vitalícias na sociedade». Se for eleito Presidente da República, renunciará a ela. E, numa farpa para Belém, assegurou que «se fosse deputado, jamais tomaria uma iniciativa destas [requerer ao TC a inconstitucionalidade da suspensão das subvenções]». Ontem Manuel Alegre, apoiante de Belém, veio a terreiro acusar Nóvoa de ter faltado ao respeito para com Mário Soares e Jorge Sampaio, dois ex-PR apoiantes da sua candidatura e que ainda beneficiam da subvenção vitalícia.
Nóvoa recusa embate com Belém e mostra apoios do PS
A última semana de campanha foi de disputa entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa e de apelo ao voto útil para derrotar o candidato da direita. A ex-ministra da Saúde bem tentou chamar Sampaio da Nóvoa para o confronto direto. Mas o ex-reitor, que tentou polarizar os votos à esquerda, insistiu que os seus adversários são apenas dois:_Marcelo e a abstenção.
«Não faço esta campanha contra ninguém. Não faço esse favor aos candidatos apoiados pela direita. Recuso-me a perder tempo em ataques fratricidas e que nos afastam do foco desta campanha, do essencial desta campanha», atirou, em Setúbal, ao lado de Vítor Ramalho, Eduardo Cabrita, ministro Adjunto, e de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS.
Na véspera, Belém tinha reclamado para si o direito de receber o apoio do PS. «Era o que faltava que fosse mais importante apoiar independentes do que socialistas», disse na segunda-feira, durante uma ação de campanha em Bragança. Mas o ataque não desmobilizou a máquina do PS, que está maioritariamente com Nóvoa – garantia dada por Carlos César, líder parlamentar do PS, na segunda-feira – e que também ajudou a encher no domingo o pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, onde o candidato teve 1600 apoiantes, entre eles Ramalho Eanes, Edite Estrela,_Isabel Moreira e Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, que apelou ao voto no ex-reitor. Ainda assim, depois de Marcelo questionar a sua independência dos partidos, Nóvoa garantiu no debate: «Nunca fui, nem serei um candidato do PS».
Não bastava a candidatura de Belém acusar o toque da ‘onda’ Nóvoa – a falta de apoios na direção do PS – e o adversário Cândido Ferreira, ex-PS, levantou suspeitas sobre a formação em Teatro do ex-reitor. Nóvoa evitou a resposta. Mas no debate, viu-se obrigado a esquecer o guião (responder só a Marcelo) e esclarecer Cândido Ferreira.
Dramatização do voto em Marcelo e apelo ao voto útil
A suspeita levantada por Cândido Ferreira não foi cavalgada pelos outros adversários. Tanto que o candidato continua focado no apelo ao voto útil, acenando com os riscos de eleger o candidato da direita. «Votar em Marcelo é escolher uma solução fast-food: está embalado com rótulo e publicidade, mas conhece-se mal o que está lá dentro e o pior vem depois, a comida sabe e faz pior e a médio prazo tem mesmo tudo para ser uma desgraça», disparou, no início da semana, depois de acusar Marcelo de estar sempre do lado errado da História, como na despenalização do aborto ou na lei de bases da Educação.
Ontem, depois da arruada na Rua de Santa Catarina, no Porto, Nóvoa reuniu apoiantes para um comício com Eanes, Manuel Pizarro, Elisa Ferreira e Carlos César. Hoje está em Lisboa para a tradicional descida do Chiado. No encerramento, marcado para a Aula Magna, terá a derradeira oportunidade para «acordar todos» e para defender a necessidade de «haver segunda volta».