Marcelo não fez uma campanha para ganhar votos – fez uma campanha para não perder votos. Do ponto de vista do próprio, fez a melhor campanha que poderia ter feito: a prova é que ganhou em todos os distritos do continente e ilhas, mesmo nos mais encarniçados bastiões comunistas.
Um feito.
Mas Marcelo não fez a melhor campanha do ponto de vista do país. Neste momento, o país precisava de uma campanha mobilizadora, uma campanha galvanizadora, uma campanha entusiasmante — e não de uma campanha minimalista.
A esquerda que votou nele fê-lo com resignação, a direita que votou nele fê-lo sem convicção.
Foi patético ver Marcelo Rebelo Sousa na Faculdade de Direito começar o seu discurso a dizer aos presentes que «o povo é quem mais ordena». De repente, senti-me confuso: será Marcelo ou Sampaio da Nóvoa? E ainda mais patético foi ver os presentes a aplaudir, embora sem nenhum entusiasmo…
Dos outros candidatos, assinale-se o fraco resultado do candidato de António Costa, Sampaio da Nóvoa, que não chegou aos 23%, mostrando que o ‘tempo novo’ de que tanto falou se calhar ainda não chegou. Ou não suscita grande entusiasmo.
Marisa Matias, pelo contrário, levou o BE a sair destas eleições impante, com mais força para encostar o PS à parede. É o partido mais confortável neste frentismo de esquerda. Inversamente, o PCP é o mais desconfortável com a actual situação. Este resultado de Edgar Silva, quase ao nível do de Tino de Rans, mostra um partido envergonhado no apoio ao Governo, que vai rapidamente ter de pensar no seu destino. Por este andar, o BE subirá mais e o PCP cairá ainda mais.
Maria de Belém ficou entre Marisa e Edgar, sendo uma das grandes vencidas da noite eleitoral. Abandonada pelo PS, atacada fortemente na fase final, sem capacidade para reagir à adversidade (até o seu mais destacado apoiante morreu durante a campanha), caiu inexoravelmente. Mas soube assumir a derrota sem subterfúgios.
Quanto a Tino de Rans, já se percebeu que em todas as campanhas eleitorais vai surgir um candidato que concentra os votos dos que consideram estas eleições (e a própria democracia) ‘uma palhaçada’. O estranho é este candidato ter quase tantos votos como o do PCP, com uma máquina montada e um enraizamento de quase 100 anos na sociedade portuguesa.