2.Primeiro, porque mostrou que, em Portugal, os partidos, e as lideranças conjunturais dos partidos, não são titulares de um direito de propriedade exclusivo sobre a democracia portuguesa – não foi o PSD, nem o CDS, que impuseram Marcelo aos portugueses. Para alguns, foi mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que se impôs aos dois partidos. Qual o fundamento desta imposição? Pois bem, a vontade inequívoca da maioria dos portugueses, revelada em diversas sondagens desde há muito tempo, de ter alguém com a seriedade, a força, o carisma e a inteligência de Marcelo. Tem-se dito, e redito, que esta foi uma vitória individual de Marcelo contra o PSD de Passos Coelho. Que foi uma vitória, apesar do PSD.
3. Não concordamos. Não foi uma vitória individual: foi uma vitória de Portugal. Foi uma vitória, não exclusiva de Marcelo, mas partilhada (e protagonizada) por todos os portugueses. Além disso, se é verdade que Passos Coelho não foi um entusiasta da candidatura do nosso novo Presidente da República, a verdade é que o líder do PSD revelou a inteligência e a sensatez de compreender que acima das suas preferências pessoais, estava – como sempre está – a preferência dos portugueses. Marcelo, compreendendo o estatuto constitucional do Presidente da República e o seu papel específico no nosso sistema político, ficou grato pelo apoio dos dois partidos de centro-direita, não se deixando, porém, aprisionar pelas conveniências políticas de uma só força política ou pela agenda imediatista de alguns políticos. É um facto inédito na nossa história política: teremos um Presidente da República não comprometido nem com a sua família política de origem (PSD e CDS), nem com as forças políticas que hoje compõem a solução governativa, designadamente, com o partido que lidera o Governo (o PS de António Costa). Marcelo não deve, pois, nada a ninguém: não é devedor de Passos Coelho; tão pouco é devedor de António Costa. Marcelo é independente, livre e imparcial. E um institucionalista. Marcelo – como afirmaram os portugueses nas urnas – é fixe.
3.1.E Marcelo será um Presidente fixe. Quer dizer: Marcelo será um Presidente descomprometido com as agendas individuais de poder dos partidos políticos (de todos!) – mas comprometido com o interesse de Portugal. Interesse de Portugal que não poderá nunca ser desligado do bem-estar de cada português.
4.Inventou-se que Marcelo ia à segunda volta, porque a direita se iria desmobilizar ou votaria em Henrique Neto – nada disto ocorreu, obtendo Henrique Neto (pessoa que muito estimamos) uma votação residual. Os portugueses que se identificam com os valores do centro-direita não faltaram à chamada de defesa do interesse nacional. Como sempre aconteceu na história – nós, como o caríssimo leitor reconhecerá, escrevemos isto por diversas vezes aqui no SOL, rejeitando qualquer efabulação de namoro entre a direita e outro candidato que não Marcelo Rebelo de Sousa. A direita e a esquerda moderada perceberam que é fulcral dotar o sistema político de um árbitro não capturado pela esquerda mais radical (que domina hoje os centros de poder), capaz de assegurar a estabilidade e a moderação governativas.
5.De que precisará, então, Marcelo para se revelar um soberbo Presidente da República? É fácil: Marcelo apenas tem de ser Marcelo. O afectuoso, o comunicador, o próximo dos portugueses e das portuguesas – aditando, ainda, o seu institucionalismo (que já revelou, embora se tente esconder esta parte da sua biografia, na Faculdade de Direito de Lisboa, na oposição na Câmara Municipal de Lisboa, mais recentemente, na Presidência do Conselho Directivo da Fundação Casa de Bragança), o seu enorme Sentido de Estado e o seu ainda maior espírito democrático e livre. Não tenhamos dúvidas: Marcelo Rebelo de Sousa é o homem certo no lugar certo, no momento certo.
6.Poderíamos hoje, neste nosso espaço, analisar o colapso do candidato do PCP e suas razões. Poderíamos hoje analisar as causas do sucesso de Marisa Matias e se será possível extrapolar conclusões para além das presidenciais, nomeadamente, em termos de afirmação definitiva do Bloco de Esquerda no nosso sistema partidário. Por fim, poderíamos explicar o fenómeno Tino de Rans, que deu uma lição de voluntarismo político e dignidade institucional a muita gente. Todavia, finalmente, fiquemo-nos pelo facto político de esperança e felicidade que é a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa. Os portugueses precisavam rapidamente de virar a página no que respeita à Presidência da República. Precisavam de alguém que simbolizasse a esperança e a confiança por tempos mais prósperos e felizes. Esta viragem de página está prestes a acontecer.
7.Durante quarenta anos, tivemos o Professor Marcelo. Na Academia e na comunicação social. O professor Marcelo será recordado, para sempre, como o Professor intelectualmente brilhante, pedagogicamente exemplar e humanamente singular. A partir de 9 de Março, o Professor Marcelo dará lugar ao Presidente Marcelo. O Presidente Marcelo, esse, entrará para os registos da nossa História colectiva como a personalidade que reconciliou os portugueses com a democracia. Não temos dúvidas que a História dará o devido lugar a Marcelo Rebelo de Sousa. Este não é, porém, o tempo para antecipar o juízo da História. Este é o tempo para viver a História. Comecemos, então, a vivê-la. Parabéns, Portugal.
P.S – Fica, naturalmente, aqui uma palavra de elogio a todos os candidatos porque honraram a democracia. Só há vitórias quando há competição saudável de ideias, de personalidades, de experiências, de estilos.