Uma das maiores preocupações das empresas é a escassez crescente das divisas nos bancos. Manuel Reis Campos, presidente da Associação de Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, não esconde que situação é cada vez mais difícil. “Em primeiro, há um atraso nos pagamentos e depois existe ainda um outro grande problema que é o facto de os pagamentos estarem a ser feitos em kwanzas”, explica, acrescentando não existir nenhum número concreto sobre a dívida que existe às empresas portuguesas.
Reis Campos sublinha que Angola é um mercado importante e que as empresas têm feito de tudo para conseguirem aguentar-se. Mas o facto de os pagamentos não estarem a ser feitos não ajuda. “Há dificuldade em fazer tudo e um desgaste muito grande”, admite.
Um dos problemas é o ciclo vicioso pernicioso em que o país entrou. “Quando faltam materiais, a obra para. Quando isso acontece, a certa altura já tudo parou. Quando falamos de uma situação em que existe falta de materiais, temos de admitir uma situação em que é difícil trabalhar”.
Também em 2009, com a queda abrupta dos preços do petróleo, a atividade económica em Angola desacelerou rapidamente. O saldo orçamental passou de excedentário a deficitário, houve uma grave crise cambial e falta de divisas no país e as dívidas às empresas portuguesas acumularam-se, mas o problema foi resolvido numa visita do Presidente Cavaco Silva ao país. Ninguém esperava que a situação voltasse a piorar, mas a crise chegou entre 2014 e 2015.
O investimento direto das empresas portuguesas em Angola sofreu uma forte queda entre junho de 2014 e julho de 2015. A redução atingiu os 1.554 milhões de euros, cerca de 41%. Passou de um total de 3.784 milhões de euros para 2.229 milhões, de acordo com o Banco de Portugal.
No final do ano passado, o FMI fez saber que considera que uma recuperação de Angola só poderá acontecer em 2017. E, mesmo esta previsão, aponta para vários riscos: nomeadamente uma nova descida dos preços.
Ricardo Velloso, que liderou a missão do FMI a Angola em agosto, explicou que “a perspetiva é para uma recuperação que vai começar em 2017, mas há riscos negativos, incluindo uma descida mais acentuada nos preços do petróleo”.
Angola foi desde cedo um dos melhores mercados para as empresas nacionais, quando o mercado interno começou a mostrar fragilidades. Portugal foi, em 2014, segundo dados do International Trade Center, o segundo maior fornecedor de Angola. A quota de mercado portuguesa foi de 16,5%, só superada pela China, com 23,4%.
As empresas lutam contra as dificuldades em Angola tentam sobreviver, mas já há empresários que tentam recorrer a outros mercados, como Gana, Colômbia ou Moçambique.