Direita tem um problema

A direita tem um problema. A gerigonça é má, é manca e conduz-nos ao desastre, mas já se percebeu que veio para ficar.

Ultrapassada a vergonha em aliar-se a partidos eurocéticos e extremistas (numa aliança que impossibilitará as reformas ou conduzirá  a um segundo resgate), o PS nunca mais deixará de se aliar à esquerda. Como em muitas coisas da vida, só custa a primeira vez…

Sempre que houver eleições legislativas, a esquerda unir-se-á toda para impedir que a direita governe. A direita para governar tem de ter maioria absoluta – é assim desde outubro de 2015.

A direita ganhou as legislativas mas longe da maioria absoluta. E agora perguntamos: como lá chegar?

Tenho ouvido que se deve fazer ‘à Marcelo’. Uma campanha sem tomar posição sobre nada e onde se fica crispado num debate a dois.

Ora, uma campanha dessas dá para ganhar umas presidenciais mas não dá para ganhar umas legislativas. Numas presidenciais, o povo vota num político para exercer o cargo durante dez anos, vota num político que esteja acima dos partidos, que seja o garante do sistema, mas acima de tudo que seja uma pessoa razoável, que não aperte o botão da bomba atómica da dissolução da Assembleia da República só porque acordou mal-disposto.

As presidenciais são assim como a Taça de Portugal: há surpresas e dá para ‘fazer umas flores’ de vez em quando.

Já as legislativas são outro campeonato. São a Liga. O Benfica, o Porto ou o Sporting, para ganharem a liga, não se podem pôr a rezar para que os adversários optem por falta de comparência ou sejam acometidos por vagas de lesões ou más arbitragens. A Liga é um campeonato de regularidade. Jogam todos contra todos.

Para as legislativas, o PSD e o PS vão enviar os seus melhores candidatos a primeiro-ministro. Não haverá faltas de comparência.

Imaginemos uma campanha eleitoral legislativa neste momento entre Passos Coelho e António Costa. É para repor feriados, ou não, e quais?

É para devolver salários à função pública, ou não, e em que montante? É para privatizar a TAP, ou não? Acabam os exames ou não? E como fica a sobretaxa do IRS? E desce o IVA na restauração? A função pública trabalha 35 ou 40 horas? E como ficam as pensões e a contribuição Extraordinária de Solidariedade?

Ser a esquerda da direita, como Marcelo disse, também não é solução numa campanha intensa ou num debate aguerrido.

O que é ser ‘à Marcelo’ no horário de trabalho? 40 horas para os privados, 37.5 para o setor público? Fazer exames ano sim, ano não? Num debate a sério, com candidatos a sério, é preciso dar respostas convincentes.

A direita tem um problema: uma frente unida de esquerda de cada vez que houver umas eleições legislativas.

As presidenciais estão ganhas e bem ganhas para os próximos dez anos. Agora esqueçam-nas.

sofiavrocha@sol.pt