Segunda-feira, no arranque do debate na generalidade do Orçamento do Estado, Costa recordou o episódio e atacou a bancada do PSD. “Enquanto todos nos lembrarmos de Paulo Rangel e do seu comportamento no Parlamento Europeu, bem podem pôr as bandeiras à lapela que nunca mais ninguém vos respeitará”. E acrescentou, para picar ainda mais a bancada do PSD: “Sei que para os radicais é difícil perceber o que é o equilíbrio. E por isso tiveram de passar a vergonha de ter o presidente da comissão ríspido a dizer que os problemas nacionais se resolvem no próprio país”.
Paulo Rangel não deixou a resposta por mãos alheias. Num artigo publicado hoje no Público, todo ele dedicado ao episódio, o eurodeputado recorda o debate que manteve em Bruxelas com vários deputados portugueses, entre eles Ana Gomes (PS), João Ferreira (PCP), Marisa Matias (BE) e Elisa Ferreira (PS), que consideraram a declarações de Paulo Rangel um “ataque dramático à democracia e ao país”, levando mesmo Juncker a intervir para lembrar que aquele não era um debate sobre Portugal mas sim sobre a Europa.
“Devo dizer que acho que Juncker nem sequer tinha razão. O tema era pertinente, fazia sentido e, surpresa das surpresas, foi levantado por uma distinta deputada socialista [Maria João Rodrigues], do partido de Costa. Mas ainda que Juncker tivesse alguma razão, visou os seis deputados, não apenas um. Ouçam a gravação e verão. Verão como Costa, na veste de primeiro-ministro, manipulou e abusou. E isso, dr. Costa, por muito que lhe custe, não lhe admito”, escreve o eurodeputado do PSD.
Rangel lembra ainda os seus argumentos durante o tal debate em Bruxelas, que começou, escreve, com a deputada socialista Maria João Rodrigues a “aludir à situação portuguesa e ao Governo português, invocando expressamente a inserção do Semestre Europeu na agenda daquele conselho” e enfatizando que “o Governo português era fortemente europeísta”. Continua Rangel: “Quando chegou a minha vez de falar, tive naturalmente de a contraditar para dizer que não pondo em causa a convicção dos socialistas portugueses, não poderíamos esquecer que o Governo português era apoiado por duas forças de esquerda radical. E que uma delas era claramente antieuropeia – o PCP – e já o tinha demonstrado nesse mesmo debate, na intervenção de João Ferreira (em que, heresia das heresias, falou de Portugal). E que a outra – o BE – tinha conceções económicas incompatíveis com a economia social de mercado que está na base da União Europeia tal como a conhecemos”, escreve.
“E terminei com a terrível tirada parlamentar: ‘Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és’. Foi este o grave crime de lesa-pátria que o tal Paulo Rangel cometeu. Foi isto e só isto”, clarifica Paulo Rangel no seu artigo de opinião, onde acusa António Costa de ter dificuldade em “lidar com a critica e a opinião alheia. Nada de novo no mundo claustrofóbico de algumas correntes socialistas”. O eurodeputado social-democrata deixa um aviso: “não tolero , não admito e não recebo nem lições nem remoques de António Costa”. E uma garantia: “por muito que isto lhe custe, não me intimida nem me calará”.