O Presidente de Angola e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos, anunciou ontem, em Luanda, que vai deixar o cargo em 2018.
«Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018», garantiu o presidente angolano quando discursava na abertura da 11.ª sessão ordinária do Comité Central do MPLA.
O Presidente não revelou as razões pelas quais vai abandonar a vida política e pediu ainda, durante o discurso, uma luta firme contra a má gestão e uma mobilização para alcançar os objetivos do Executivo.
Esta não é a primeira vez que José Eduardo dos Santos mostra intenção de abandonar o poder. Já em junho do ano passado, o Presidente insinuou que estaria a pensar no assunto ao dizer que era «preciso estudar muito atentamente o modo de construir a transição». E já tinha feito anúncios semelhantes em 2001 e 2011. Na declaração do chefe de Estado não ficou claro se ainda vai candidatar-se ou não às eleições gerais em agosto de 2017.
No cargo desde 1979, Eduardo dos Santos é já o segundo líder africano há mais anos no poder, sendo batido apenas por Teodoro Obiang Nguema, da Guiné Equatorial, e ultrapassando Robert Mugabe, que ascendeu a primeiro-ministro do Zimbabué em 1980.
‘Ver para crer’
José Eduardo dos Santos entrou na vida política aos 18 anos, juntando-se ao movimento anticolonialista. E chegou à direção do MPLA logo em 1974, assumindo a presidência após a morte de Agostinho Neto, cinco anos depois. As várias promessas de retirada que fez desde então não foram esquecidas pelos críticos, que ontem reagiram à sua declaração.
«Era de esperar que, depois de 40 anos, ele [José Eduardo dos Santos] tomasse esta decisão de se retirar da direção do país, mas também temos lembrado que não é a primeira vez que o faz. Já o fez no passado e por isso é preciso acompanhar essa questão de perto», disse, em declarações à Lusa, Alcides Sakala, porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola, UNITA. «É preciso ver para crer», acrescentou.
Também Luaty Beirão, acusado de preparar um golpe contra o Presidente angolano desvaloriza o anúncio. «Já ouvi esse discurso em 2011», disse à Lusa. Para o jornalista angolano Rafael Marques – um dos principais críticos do regime – Eduardo dos Santos pode ter criado «uma situação de grande pressão», uma vez que, acredita Marques, dentro do MPLA vai «começar a haver empurrões para a sua sucessão».