Paulo Padrão, o homem da comunicação de Ricardo Salgado nos tempos em que o BES era o principal financiador/anunciante dos principais grupos de comunicação social em Portugal, deixou em final de Janeiro a empresa de Luís Paixão Martins (LPM) e voltou a colaborar directamente com… Ricardo Salgado.
Padrão é de há anos mal querido na generalidade da classe jornalística, pela arrogância com que tratava os profissionais da informação, sabedor da dependência dos respectivos patrões em relação ao seu próprio – à época presidente do BES, cuja imagem de DDT (Dono Disto Tudo) tanto ajudou a construir.
Por isso, quando Salgado perdeu a presidência do banco na sequência do descalabro do universo Espírito Santo, fruto de uma das maiores fraudes de sempre da história da banca e do mundo financeiro, Paulo Padrão foi o primeiro a sair pela porta de serventia da sede à Avenida da Liberdade. Foi em 2014. Mas o ex-director de comunicação do BES não perdeu tempo a arranjar emprego, passando a desempenhar as funções de director-geral da LPM – a agência de comunicação com as iniciais de Luís Paixão Martins. A saída de Paulo Patrão da LPM passou quase despercebida, o que não deixa de ser estranho tratando-se de um director-geral de uma agência de comunicação, ainda para mais ex-director de comunicação do BES. Não obstante, foi notícia na Meios&Publicidade, que “tentou, sem sucesso, obter uma reacção do ex-director de comunicação do BES sobre o seu futuro profissional” (28 de Janeiro de 2016). Também o i tentou agora contactar Paulo Padrão, igualmente sem sucesso.
Ricardo Salgado, conhecedor da fama de Padrão junto da classe jornalística, quando deixou a presidência do banco optou por contratar os serviços de comunicação de outros profissionais do sector, bem mais entrosados no meio, como o simpático ex-jornalista Francisco Teixeira, a quem confiou a sua comunicação institucional.
Recorde-se que Salgado, antes mesmo de ser detido e de conhecer gravosas medidas de coacção (incluindo a privação de liberdade) no âmbito dos processos em que é arguido principal pelas mega-fraudes que conduziram à hecatombe do universo Espírito Santo – e à falência da família e de milhares de investidores –, veio a público declarar que dedicará o resto da sua vida à defesa do seu bom nome e do da sua família – o que não deixa de ser irónico.
Paulo Padrão é um dos mais fiéis colaboradores de sempre de Salgado e, ao contrário de tantos outros que deste se afastaram quando caído em desgraça, não deixará de o acompanhar sempre nessa difícil, se não impossível, missão.
Por isso, e porque desde há semanas voltou a colaborar directa e ativamente com Ricardo Salgado, talvez não seja por mera coincidência que Padrão tenha almoçado com António José Vilela, jornalista da “Sábado”, nas vésperas da publicação por esta revista do grupo Cofina, de Paulo Fernandes, de um trabalho assinado por aquele e que fez capa na sua última edição com o antetítulo “Exclusivo privatizações da REN e da EDP” e o título “365 dias de escutas incriminam Ricciardi” – ora, lido o trabalho, não se percebe nem o antetítulo (Luís Rosa, Sílvia Caneco e Carlos Diogo Santos no i e Felícia Cabrita e João Madeira no “Sol”, bem como tantos outros jornalistas em vários outros meios de comunicação social, incluindo o próprio Vilela na “Sábado”, já há muito haviam escrito sobre os factos referidos e, ao que se saiba, José Maria Ricciardi não está incriminado por coisa alguma), nem muito menos (pelos mesmos motivos) o destaque dado a uma não notícia.
Acontece que esta capa da “Sábado” surge dias depois do lançamento do livro “Dias do Fim”, da autoria de Alexandra Almeida Ferreira (jornalista freelancer ex-”Diário Económico”), em que Ricardo Salgado dá a sua versão pessoal sobre o processo que conduziu à queda do BES. E com a publicação do livro, lá apareceu na imprensa do costume, sem qualquer contraditório dos principais visados por Salgado, a história tal como este quer que a vejam, disparando sobre todos aqueles que contradizem essa sua versão.
À falta de razão, Salgado – com toda a sua entourage, incluindo Padrão – só tem uma estratégia para recuperar o seu bom nome: desacreditar todos aqueles que judicialmente o podem condenar. A começar por Ricciardi – testemunha-chave nos complexos processos em que Salgado é arguido.
Os meios de comunicação e os jornalistas que, interessada ou involutariamente, se deixam condicionar são os seus instrumentos.