O melhor do cartoon português em exposição

Um plantel de luxo: António, Bandeira, Brito, Carrilho, Cid, Cristina, Gargalo, Gonçalves, Maia, Monteiro e Rodrigo. O 11 inicial não tem malta no banco porque não precisa – juntos, são a fina flor do que de melhor se faz de cartoon em Portugal.

O molde é simples e o conteúdo animado, ou não falemos nós de cartoons. E não é preciso ser um Einstein ou um consumidor ávido de informação para perceber os duzentos desenhos que compõem a exposição. Basta que seja um visitante «medianamente informado», diz António Antunes, cartoonista, vila-franquense e camisola 10 da Cartoon Xira. «É uma exposição para ver em família porque as crianças, mesmo sem perceberem a mensagem, sentem o apelo da cor e do próprio desenho».

Há cem desenhos da equipa de 11 acima enunciada, que descrevem um ano de acontecimentos em cartoon. Depois, há outros cem da autoria de um autor internacional de renome – este ano, a tela coube a Cécile Bertrand (ver página ao lado). É a primeira vez que a presença estrangeira é assegurada por uma mulher. Bertrand é, segundo o catálogo da exposição, «uma das raras mulheres, senão a única, que alguma vez ocupou o lugar de caricaturista editorial num diário francófono».

A exposição abriu há uma semana no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca, e contou com a extensa cobertura mediática da Euronews, que isto dos cartoons é muito mais giro para os estrangeiros e porque toda a gente sabe que Vila Franca de Xira é tipo Trás-os-Montes. «Temos muito pouca cobertura mediática o que é, de certa forma, incompreensível do ponto de vista da dignidade que o evento merece», continua António.

O nosso interlocutor mantém-se dado que é pelo seu escrutínio que passam os desenhos escolhidos, estando a seu cargo a curadoria da exposição. É também dele a força motriz que iniciou e mantém o evento de pé ano após ano. «A ideia já é do século passado e nasceu do encontro de duas coisas: primeiro porque sou daqui. Depois, porque a anterior presidente da Câmara de Vila Franca e atual deputada Maria da Luz Rosinha impulsionou o projeto». O sucessor, Alberto Mesquita, continua a fazê-lo, no que considera ser uma «iniciativa pioneira nesta arte no país».

Neste momento a equipa de cartoonistas portugueses é de 11, mas «houve uma altura em que a exposição era só feita com quatro», diz António. «E chegámos a fazer só com três».

Crise é tema recorrente

Já explicámos o modelo e a génese, passemos, portanto, ao conteúdo. Há temas transversais aos últimos anos da Cartoon Xira. «A crise é, sem dúvida, um deles», explica o curador. «As pessoas podem gostar mais de um ou de outro estilo, mas os temas acabam por ser similares».

Em 2015, é fácil identificar os temas aglutinadores. A nível internacional, houve a Grécia e a luta de titãs com Bruxelas que tingiu o panorama da crise económica europeia. Também a crise dos refugiados marcou o ano: os cartoons que retratam o Mediterrâneo são disso exemplo. O terrorismo e «Alá e tudo à volta», como resume o livro da exposição, são outros dos temas.

Já no país, as voltas da política ‘facilitaram’ a vida aos cartoonistas. Os últimos meses do governo Passos, as legislativas, a reeleição da coligação, a queda da mesma e subsequente governo de António Costa foram reviravoltas que inspiraram o traço e provocaram o riso.

A única maneira de ler a sociedade com uma gargalhada está aqui. Para ver até 8 de maio.

mariana.madrinha@sol.pt