Pode dizer-se que, em pouco tempo, Romain conheceu a cidade ao pormenor: viveu na Graça, Mouraria e Lapa, antes de escolher o Bairro das Colónias como seu. Passou sempre por casas arrendadas até ao momento em que uma folga financeira e uma rápida análise do mercado imobiliário o levaram à conclusão de que em Portugal compensa comprar. «Principalmente em 2009, quando cheguei, a diferença de preços face a Paris era brutal». Investiu 140 mil euros num T3, que acabou por vender mais tarde, quando o vizinho de cima transformou o andar num hotel.
A valorização de uma zona de Lisboa que fez despoletar a abertura de alojamentos para turistas foi a mesma que ajudou Romain a fazer um bom negócio. Em pouco tempo, o apartamento passou a valer 180 mil euros, dinheiro que o ajudou a investir num novo espaço, também T3 e também no Bairro das Colónias, por 240 mil euros. «Sou da opinião de que, quando há dinheiro, mais vale investir do que tê-lo no banco», conta Romain. Com 32 anos, acredita que pertence a uma geração que só não investe mais porque não pode. «Não é falta de vontade, é mesmo a diferença definida por quem consegue ou não pedir um empréstimo ao banco», continua.
Além dos fatores mais pessoais como a namorada, os amigos e um trabalho na área, a lista de razões apontadas por Romain para escolher Lisboa para viver (e investir) podia ser replicada pelos milhares de estrangeiros que vivem em Portugal. Bom tempo, pessoas simpáticas – «que te sorriem na rua e param para falar», lembra Romain – e bons espaços culturais.
Derek, apesar de estar a mais de 250km de distância, replica os motivos, acrescentando apenas mais um: «Portugal tem as praias mais incríveis que alguma vez vi».
O irlandês de 44 anos escolheu Vilamoura para viver, aproveitando para trazer consigo a tradição do país em forma de irish pub, que gere há oito anos em plena marina. Ainda que de outra forma, acabou por cumprir outra tradição irlandesa, que leva a maioria a comprar casa em vez de arrendar. O T4 que alberga a mulher, Kelly, e os três filhos custou 700 mil euros, negócio que lhe pareceu vantajoso. «Os preços de Dublin são parecidos com os de Lisboa, mas os hábitos são diferentes», refere. Derek acredita que é a falta de dinheiro para investir que leva os portugueses a preferir arrendar. «Já na Irlanda», explica, «o ato de comprar uma casa é bastante natural, até porque é sempre melhor investir em algo que dê retorno».
Setor imobiliário a crescer
Casos como o de Romain e Derek, ainda que em segmentos diferentes, ajudam a compreender o cenário de crescimento do setor imobiliário em Portugal. Os dados mais recentes fornecidos pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) são relativos a 2014 e dão conta de que, nesse ano, uma em cada cinco casas vendidas em Portugal foi comprada por estrangeiros. Só no primeiro semestre, 10.040 cidadãos estrangeiros investiram no imobiliário português, o que representa cerca de 21% do total das transações imobiliárias registadas no país naquele período.
Luís Lima, presidente da associação, aponta a «credibilidade do imobiliário e o seu potencial de valorização» como os principais fatores que levam os estrangeiros a escolher Portugal, aos quais junta características naturais ligadas à «qualidade de vida, clima, gastronomia e segurança».
Este crescimento foi traduzido em números pelas imobiliárias contactadas pelo SOL. A ERA, por exemplo, viu o seu volume de negócios crescer 37% no último ano, com 20% das vendas totais feitas a estrangeiros. Segundo o CEO da empresa, Miguel Poison, são os ingleses e os franceses a disputar o primeiro lugar no ranking de fãs de Portugal, que se vão dividindo, maioritariamente, por Lisboa, Porto e Algarve.
Num segmento de luxo, a imobiliária Quintela e Penalva tem já 14% do investimento vindo do estrangeiro. Como exemplo, a empresa escolhe o condomínio Castilho 69, na rua com o mesmo nome, em Lisboa, que apesar de estar pronto apenas em 2017, já pertence a uma promotora de capitais americanos, representando um investimento de 5 milhões de euros.
Um país cheio de vantagens
Em Portugal há 5.653 estrangeiros a quem foi concedido o estatuto de residente não habitual (RNH), o que lhes dá direito a ficar isento de IRS (se forem reformados) ou a pagar uma taxa de IRS de apenas 20%. Os dados são do Ministério das Finanças e foram divulgados a semana passada pelo Diário de Notícias. Este regime fiscal permite que reformados estrangeiros não paguem IRS nem cá, nem no país de origem, e que profissionais altamente qualificados fiquem a pagar uma taxa de IRS de 20%.
Luís Lima, da APEMIP, aponta este programa como um dos mais atrativos e, apesar de existirem outros países com práticas semelhantes, refere que o imobiliário português se distingue pela credibilidade do valor dos seus ativos e a sua tendência crescente para a valorização.
«Este fator, aliado ao facto de não termos passado por uma bolha imobiliária, a qualidade da nossa construção e as potencialidades que se abrem em mercados como a reabilitação urbana, o arrendamento urbano e o turismo residencial tornam o nosso imobiliário atrativo e um bom refúgio para os investimentos», explica ao SOL.
Quanto à atribuição dos vistos gold, outra forma de atrair investimento estrangeiro, o responsável lembra que este foi um processo que passou por uma fase de quase estagnação, «devido a meras questões burocráticas ou administrativas». Luís Lima acredita que o novo executivo assumiu o objetivo de retomar o ritmo da concessão de autorizações de residência mediante investimento, tendo fevereiro registando um total de 144 vistos concedidos, o melhor número desde novembro de 2014.
De acordo com os dados da APEMIP, até 29 de fevereiro de 2016 foram concedidas 2.997 autorizações de residência para atividade de investimento, das quais 2.833 por via do requisito da aquisição de bens imóveis. Em termos de investimento total, desde a sua criação, os vistos gold, lembra a associação, já trouxeram para Portugal cerca de 1,8 mil milhões de euros, sendo que a aquisição de imóveis supera já os 1,6 mil milhões de euros.