Apesar de estarem frente-a-frente, os participantes no debate diziam mais ou menos o mesmo. Que a Europa tinha a obrigação de resolver o problema dos refugiados, que estes representam uma pequena percentagem da população, que se os Governos nacionais explicassem bem o problema as pessoas perceberiam, etc.
As posições eram tão concordantes que a moderadora do programa, Fátima Campos Ferreira, sentiu-se na necessidade de fazer de advogada do diabo e levantar algumas questões polémicas. Será que as sociedades multiculturais não estão a rebentar pelas costuras? Será que as culturas de várias nações europeias não poderão mudar por via da imigração? Será que as reações da população à entrada de mais imigrantes não terá alguma razão de ser?
A isto, porém, os convidados respondiam sempre com a cantilena do politicamente correto.
Na terça-feira de manhã, quando acordei, as rádios transmitiam as notícias dos atentados na Bélgica. Dezenas de mortos provocados por bombistas suicidas que gritavam palavras de ordem em árabe. E lembrei-me do debate do dia anterior.
Os partidos centrais teimam em não perceber o que está a passar-se. Os seus políticos bem podem dizer que os imigrantes constituem uma gota de água no conjunto da população e que não há qualquer razão para alarme.
Mas depois as pessoas deparam-se com estas carnificinas e concluem o quê? Que os políticos tentam deitar-lhes areia para os olhos. E nem é preciso haver atentados para as pessoas pensarem isso. Basta andar em certos locais de Paris, ou de Londres, ou de Amesterdão, ou de Bruxelas, a certas horas do dia, para se perceber que há ali um problema.
Os parisienses ou os londrinos, mesmo em locais centrais como os Campos Elíseos ou Hyde Park, devem muitas vezes sentir-se intrusos na sua própria cidade. E não é uma questão de racismo. É que as diferenças culturais são gritantes e a aculturação pode esbatê-las mas não as anula.
Ao ignorarem o problema, ao tentarem tapar o sol com a peneira, os partidos centrais estão a cavar a sua própria sepultura. Com um discurso que não cola com a realidade, que não vai ao encontro das inquietações das pessoas, que não sossega ninguém, os partidos centrais estão a entregar o terreno à extrema-direita – que assim não parará de crescer.
Os partidos centrais têm de perceber que há que pegar o boi pelos cornos – e que, se as pessoas veem neste momento a imigração como um problema, há que encontrar soluções. O controlo das fronteiras se calhar tem de ser reforçado. E o discurso político tem de mudar: as falinhas mansas devem dar lugar a um discurso mais concreto, onde o politicamente correto seja substituído pelo pragmatismo e pela ação.
As pessoas têm medo e querem respostas. E estes políticos não estão a encontrar o tom certo nem as palavras certas.
É claro que é muito difícil combater o terrorismo. Talvez seja mesmo impossível. Mas o problema da Europa, hoje, não é só esse: é dar algum conforto moral às pessoas. E tranquilizá-las. Ora este discurso mole dos partidos centrais não as convence e não as tranquliza.
A continuar por este caminho, os governos de extrema-direita irão multiplicar-se na Europa, declarando guerra aberta aos imigrantes e a todos os não–europeus. E a maioria aplaudirá.
O tempo do politicamente correto está a esgotar-se. Se alguma coisa não mudar radicalmente, os partidos fascistas e neo-nazis vão crescer como fogo em palha.
E a Europa poderá transformar-se a curto prazo num cenário de guerra.