Os elogios do PS a Cristas

Ontem, na Assembleia da República, o presidente do PS, Carlos César, elogiou Assunção Cristas. Disse César: «O atrelado [CDS] livrou-se do rebocador [PSD], ganhou motor e passou-lhe à frente. Parabéns CDS!».

A estratégia do PS, portanto, é mostrar ao país que a esquerda e o CDS de Cristas estão em alegre consonância – e apenas o PSD se mantém no ‘contra’. Passos Coelho é, pois, o desmancha-prazeres.

Esta estratégia parece emocionar algumas pessoas no próprio PSD, que dizem que Passos tem de deixar de olhar para o passado e pôr os olhos no presente.

Poucos parecem perceber o óbvio: o pior que pode acontecer à oposição é ser elogiada pelo Governo. O pior que pode acontecer a Assunção Cristas é começar a ser elogiada por Carlos César e António Costa.

Isso significa que Cristas não faz mossa. Mais: que até pode ser uma aliada do Governo.

Mas, se assim é, em futuras eleições os habituais votantes centristas hesitarão: será que vale a pena votar no CDS? Ou haverá o perigo de o CDS se juntar ao PS para viabilizar um futuro Governo socialista?

A tática de elogiar o CDS para ‘isolar o PSD’ encerra um enorme risco: concentrar no PSD toda a oposição à ‘geringonça’. Ao contrário do que pretende Assunção Cristas, que é dividir o voto de direita, a colagem do PS ao CDS pode concentrar todo o voto da direita no partido de Passos Coelho – visto como o único capaz de ser, de facto, alternativa ao Governo atual.

Ao elogiar Assunção Cristas, Carlos César não está a ser muito inteligente. Para o CDS, esse elogio é um presente envenenado. Para o PS, pode ser um tiro pela culatra.