A reação de Soares foi a resposta a um texto de opinião publicado ontem no diário e cheio de palavras críticas não só à ação do ministro (ou á falta dela) na pasta da Cultura como ao facto de o primeiro-ministro António Costa o ter designado para o lugar.
“A nomeação de João Soares para ministro da Cultura foi uma surpresa que permanece inexplicável já que passados quatro meses não afirmou uma linha de acção política, tão só um estilo de compadrio, prepotência e grosseria”, escreve logo a abrir a crónica aquele que foi um dos fundadores do Público e que considera que João Soares é um “derrotado nato” sem “qualificações particulares para o cargo”.
“ De resto, não tinha qualificações particulares para o cargo, que não o era a sua gestão da Cultura na Câmara Municipal de Lisboa em tempos idos, antes pelo contrário. E sendo ele um derrotado nato – perdeu as eleições autárquicas em Lisboa e em Sintra e para secretário-geral do PS – mas também um caso de obstinação, esta nomeação culminou uma re-ascensão vertiginosa, se recordarmos que nas últimas eleições inicialmente nem estava em lugar elegível nas listas”, prossegue o cronista, atacando a tese de que a escolha de António Costa se justifica com o peso político que Soares tem.
“O argumento de que também pode fazer sentido ter na pasta alguém com peso político esvaiu-se com o quadro orçamental para este ano”, aponta Augusto M. Seabra, sublinhando que “não só não houve aumento de dotação, como mesmo acrescido desinvestimento na Direcção-Geral do Património e no Fundo de Fomento Cultural”.
Augusto M. Seabra vai ao ponto de considerar que, com João Soares, o Ministério da Cultura se transfomou numa “confraria de socialistas e maçons”. E recorda os elogios que o ministro foi fazendo na pasta.
“Depois começou a distribuir elogios: foi à ante-estreia de Um Amor Impossível pela sua “grande admiração pela obra notável de António-Pedro Vasconcelos”; destacou “o trabalho notável de Paulo Branco” quando foi à rodagem do filme de Fanny Ardant; foi às Correntes de Escrita porque “a Maria do Rosário Pedreira e o Manuel Alberto Valente” lhe recomendaram”, recorda, considerando que “a isto se chama amiguismo”.
A maior crítica vai, contudo, para “a nomeação de um velho apparatchik, Elísio Summavielle, para o CCB, em lugar de António Lamas, que por muitas razões que houvesse para ser substituído o foi de modo grosseiro”.
Seabra desfila, depois, algumas das ações do ministro, atacando o facto de pegar no tema da coleção de Miró e defender a sua exibição em Serralves por “quer dar nas vistas”, fazendo-o antes mesmo de Serralves e o Estado terem negociado o futuro dos quadros do autor espanhol.
“Mas não deixa de ser exorbitante que um ministro sugira programação ou a aprove, como sucedeu, segundo o nóvel presidente do CCB, com a dos Dias da Música, A Volta ao Mundo em 80 Concertos. Os concertos tinham de ser aprovados por João Soares?”, questiona, classificando também como “esdruxula” de Pacheco Pereira para administrador por parte do Estado de Serralves quando o comentador é alguém “reticente à arte contemporânea”.
As críticas a Costa
De resto, Seabra não poupa nas críticas à relação entre António Costa e o setor da Cultura, acusando o socialista de, “seguindo o modelo tradicional do PS de o considerar como ornamento”.
“Logo no início da sua caminhada houve uma iniciativa ridícula, um manifesto “A Cultura apoia António Costa”, como se uns quantos agentes fossem “A Cultura” e dela proprietários. Depois, noutra tradição socialista, o almoço em final de campanha eleitoral, houve o prodígio de ser oradora quem tinha sido tornada “artista do regime” pelo governo de direita, Joana Vasconcelos. E assim, a nomeação de Soares foi apenas o consumar político desta consideração do adorno. Mas abrindo azo aos piores receios”, defende.
“O tão badalado “tempo novo” é na cultura apenas o “tempo velho” dos hábitos socialistas. E muito ainda promete”, remata.