O coronel que num passado recente fez ameaças – ou seriam apenas desabafos? -ao Estado democrático não se importa de dizer uma coisa e o seu contrário. Sem medos, adora disparar em todas as direções e Passos Coelho foi apenas uma das suas vítimas, quando lhe chamou “mentiroso contumaz”. Vasco Lourenço parece viver noutro tempo, no tempo em que as armas falavam mais alto que o voto democrático. Há um ano, consumido e dilacerado com o estado da nação, ameaçava: “Fique claro que não nos fecham a boca nem amarram os braços, chegou o tempo de dar um estrondoso murro na mesa. Temos de ser capazes de expulsar os vendilhões do templo. Existe hoje em Portugal uma legitimidade semelhante à que existia no 25 de Abril para que as Forças Armadas intervenham.” Imagino que o coronel, quando se referia à legitimidade, estaria a olhar para o espelho… Faz algum sentido alguém achar-se dono da “verdadeira democracia”? Mas isso é um dom natural que o coronel possui? Não precisamos de coronéis que se armam em Hugo Chávez cá do burgo. Sempre que há eleições, o povo decide votar em quem muito bem entende, mas Vasco Lourenço, se calhar, gostaria de ter um militar em cada mesa de voto a obrigar as pessoas a votarem no partido que o visionário coronel determinaria…
O antigo capitão de Abril não pode ser levado a sério, já que a sua incontinência verbal o leva a dizer disparates sucessivos. Voltando às semelhanças com o major Valentim Loureiro, também adora dizer: “Quantos são? Quantos são?” Mas, felizmente, volta sempre para casa com a pistola no bolso.