Sarilhos bancários

Finalmente, resolveu-se o imbróglio no BPI, que se prolongava há demasiado tempo. Entretanto, o Banco CTT abriu 52 lojas espalhadas pelos 18 distritos do país. Trata-se do há muito anunciado banco postal, instituição que existe em países como a França, a Alemanha, o Japão, o Brasil, etc. E que aproveita parte da rede de lojas…

Numa altura em que os bancos tradicionais reduzem o número de agências e sobem as comissões que cobram, este acréscimo de concorrência é bem-vindo para os clientes. Para os bancos não o será com certeza, pois o setor debate-se com problemas que estão à vista de todos.

O mercado nacional é pequeno e por isso tem sido em mercados estrangeiros que alguns bancos portugueses buscam boa parte dos seus ganhos; mas a incursão da Caixa Geral de Depósitos em Espanha correu mal. E o BPI já não está em Angola. O maior problema do setor é o da insuficiente capitalização, numa altura em que aumentam as exigências de capital para prevenir crise bancárias.

No caso dos bancos nacionalizados em 1975 as indemnizações pagas aos respetivos acionistas foram apenas simbólicas – essa é uma das raízes de baixa capitalização atual e também da entrada de alguns estrangeiros ‘incómodos’ como acionistas. Mas bancos como o BPI e o BCP nasceram e floresceram depois do episódio das nacionalizações, o que não evita que, também eles, sofram problemas de capitalização. E a CGD, o banco que sempre foi do Estado, precisa urgentemente de mais capital.

É porque, como tenho dito, vivemos num capitalismo sem capital que se torna tão difícil criar agora um banco com capitais portugueses. A Câmara de Comércio e Indústria de Portugal tenta mobilizar empresários portugueses para lançar um banco privado. A iniciativa é louvável, mas não será fácil concretizá-la. As empresas portuguesas estão demasiado endividadas (embora hoje um pouco menos), possuem reduzidos capitais próprios e, por isso, encontram-se muito dependentes da banca que já existe.

Os contribuintes estão fartos de pagar as sucessivas crises bancárias. Por isso olham com desconfiança a ideia de arranjar um ‘veículo’ ou um ‘banco mau’ para lá colocar o crédito malparado, que seria depois vendido com desconto, aliviando os bancos. Mas alguém terá que pagar o prejuízo. Dinheiro privado, com garantia do Estado? Mais perdas para os contribuintes…

Não temos gestores bancários sérios e competentes? Temos, mas não tantos quantos seriam necessários. Aliás, os negócios falhados da CGD e a sua frequente utilização para fins político-partidários (como o assalto ao BCP) mostram que nacionalizar bancos pouco ou nada resolve; veja-se também quanto nos custa o nacionalizado BPN e, antes disso, o mau funcionamento da banca enquanto esteve nacionalizada.

Mas nem tudo é mau. O sistema bancário português voltou à rendibilidade em 2015, depois de quatro anos de perdas. Houve em 2015 metade das imparidades registadas em 2014, isto é, ativos cujo valor fica abaixo do esperado, por exemplo créditos que não são pagos. É uma luzinha ao fundo do túnel para a banca em Portugal, apesar das baixas taxas de juro.