Acresce outra estreia: a de António Costa como primeiro-ministro, suportado por uma maioria de esquerda que incluiu pela primeira vez oPCP e que elegeu Ferro Rodrigues presidente da Assembleia da República.
Militares regressam
A Associação 25 de Abril recusava o convite do Parlamento para participar na sessão solene desde 2012, em conflito com o então Governo PSD/CDS. MárioSoares subscreveu o protesto e também deixou de ocupar a sua cadeira na galeria presidencial do hemiciclo. Este ano, porém, Vasco Lourenço, líder da associação, que nos anos anteriores exigira poder falar para comparecer, aceitou o convite de Ferro sem direito a discurso. E junta-se à celebração, que começa às 10 horas com os discursos de Paula Teixeira da Cruz (PSD), Carlos César (PS), Jorge Costa (BE), Rita Rato (PCP), José Luís Ferreira (PEV) e André Silva (PAN). O CDS mantém em segredo o nome do seu representante, alimentando o rumor entretanto criado de que seria Paulo Portas, em jeito de despedida.
Estreia: Marcelo, Ferro e Costa
Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues e António Costa fecham a cerimónia. Vão discursar pela primeira vez desde que foram que ocuparam os cargos que hoje desempenham numa sessão comemorativa do 25 de Abril. Os discursos das três figuras do Estado servirão para medir o pulso à coabitação entre Presidência, Assembleia e Governo.
Mas não são esperados recados nem farpas que belisquem a boa relação que estes órgãos de soberania mantêm desde que assumiram funções. As intervenções não passarão ao lado dos 40 anos da Constituição, que se celebra este ano. Costa deverá ainda chamar a oposição para o diálogo, nomeadamente o PSD. Marcelo também deverá insistir na necessidade de acordos entre Governo e oposição, reafirmando o compromisso e o lugar de Portugal na zona Euro e na Europa.
PCP numa maioria de esquerda
É precisamente esta parte do discurso do Presidente Marcelo, a confirmar-se, que menos poderá agradar a BE e PCP, que se juntaram ao PS para apoiar o Governo.
Os dois partidos à esquerda do PS não abdicaram de algumas das suas bandeiras na luta contra as regras de Bruxelas na política nacional. E ver o Presidente subscrever as orientações de Bruxelas irrita sempre tanto bloquistas como comunistas.
De todo o modo, para a memória deste 42.º aniversário do 25 de Abril fica o facto de, pela primeira vez, a bancada do PCP apoiar um Governo do PS, hipótese que até ao final do ano passado foi tida como a ltamente improvável.
É certo que o PCP ainda não está no Governo, nem o BE. Mas tanto um partido como o outro partido têm sido essenciais para manter António Costa no poder, como se viu no OE e neste Programa de Estabilidade.
Festa Non-Stop
António Costa, de resto, começa a celebração dos 42 anos do 25 de Abril ao lado de Marcelo – e de Passos Coelho. Será em Sintra, perto da meia-noite do dia 25, na inauguração do NewsMuseum.
OPresidente fará uma curta intervenção sobre a importância do museu e receberá um cartoon feito por António como presente. A cerimónia será acompanhada por jornalistas como Joaquim Furtado, que às 04h20 da madrugada de 25 de abril leu o primeiro comunicado do MFA, no Rádio Clube Português.
Depois da sessão matinalno Parlamento, Marcelo segue para Santarém, onde irá depositar uma coroa de flores na estátua de Salgueiro Maia. OPresidente regressa depois a Lisboa para condecorar, com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade, os médicos António Arnault e João Lobo Antunes. O dia termina com uma homenagem a Manuel Alegre na Culturgest, a quem vai entregar o prémio Vida Literária.
O primeiro-ministro, por seu turno, concentra a sua agenda em Lisboa. Depois da sessão solene, Costa segue para a residência oficial de São Bento, onde retoma a tradição (interrompida desde 2012, por Passos Coelho) de abrir os jardins e algumas salas da residência à população, que poderá assistir a um filme sobre a Revolução, a um concerto da Orquestra Jovem Municipal Geração de Lisboa e a uma atuação musical do guitarrista Pedro Joia ou da Lisbon Poetry Orchestra.
Quem não quiser passar por São Bento pode juntar-se à tradicional marcha popular entre a Avenida da Liberdade e os Restauradores, onde estarão representados partidos políticos bem como líderes sindicais.
1977: a primeira vez em S. Bento
A primeira sessão solene do 25 de Abril naAssembleia da República só aconteceu em 1977, ano em que se celebrava o terceiro aniversário da Revolução dos Cravos. Mário Soares era primeiro-ministro e Ramalho Eanes Presidente.Eanes encerrou a cerimónia – aplaudido de pé por todas as bancadas – que começou com intervenções de representantes de todos os partidos com assento em S. Bento: Acácio Barreiros (UDP), Octávio Pato (PCP), Sá Machado (CDS), Barbosa de Melo (PSD) e Salgado Zenha (PS).
Em 1975 e 1976, a data havia sido celebrada com a ida dos portugueses às urnas para votar – primeiro para a Assembleia Constituinte e, um ano depois, para a Assembleia da República. Seria a I Legislatura do Portugal democrático após 48 anos de ditadura.