“Back in Black”, o primeiro disco pós-Scott e até hoje considerado o de maior sucesso nos mais de 40 anos de história da banda, ultrapassou o êxito de “Highway to Hell” e saiu disparado para o primeiro lugar dos tops da Austrália. Brian Johnson depressa se fez lenda e conquistou um lugar ao lado de Angus e Malcom Young, donos das guitarras e únicos membros fundadores até ao afastamento de Malcom, em 2014.
Tanto que o anúncio da sua substituição por Axl Rose como vocalista ao vivo para assegurar as datas da tournée de apresentação do disco “Rock or Bust”, que tinha sido interrompida quando Johnson percebeu que teria que parar imediatamente de dar concertos sob pena de perder completamente a audição, está a ser tudo menos consensual. Sobre a passagem por Lisboa a 7 de maio, no Passeio Marítimo de Algés, a Everything is New já fez saber que aceitará a devolução dos bilhetes de quem não quiser ir ver o concerto sem o seu vocalista de há 36 anos, tempo que o próprio recordou numa nota que divulgou esta semana sobre o seu afastamento, que tudo fará para que não seja definitivo.
“A 7 de março, depois de vários exames feitos por médicos especializados em perda auditiva, fui avisado de que se continuasse a atuar em grandes concertos arriscava ficar completamente surdo”, explicou sobre esse que descreveu como o dia “mais negro” da sua carreira. “Estou destroçado como não podem imaginar, a experiência emocional que estou a atravessar é pior do que qualquer coisa que tenha sentido antes”, desabafou. “Ser parte dos AC/DC, gravar discos e atuar para os milhões de fiéis seguidores da banda ao longo dos últimos 36 anos foi o trabalho da minha vida. Não consigo imaginar-me a seguir em frente sem fazer parte disto, mas por agora não tenho escolha. A única coisa que é certa é que continuarei sempre com os AC/DC em cada concerto, em espírito se não for em pessoa.”
Foi o próprio Johnson que admitiu que já há algum tempo sentia dificuldade em ouvir as guitarras em palco e que os seus problemas auditivos, para os quais terá contribuído mais a sua paixão pelos carros de corrida do que pela música, começavam a afetar o seu desempenho ao vivo. “Os nossos fãs merecem uma performance ao mais alto nível, e se por alguma razão eu não conseguir estar a esse nível não vou desapontá-los ou embaraçar os outros membros dos AC/DC.”
Há pouco mais de um ano, numa entrevista que deram ao The Village Voice a propósito do disco “Rock or Bust” os AC/DC diziam que estavam a divertir-se demasiado para pensarem em reformar-se – provou-o poucos meses depois a atuação que deram nos Grammy, a recordarem a “Highway to Hell” dos tempos de Bon Scott e de uma tragédia ultrapassada.
Mas eles que se provaram capazes de sobreviver à morte e ao desgaste do tempo tentam agora ultrapassar aquela que poderá ser a sua fase mais negra. Isto porque antes do afastamento de Johnson dos palcos já tinha havido a saída do fundador Malcom Young em 2014, depois de lhe ter sido diagnosticada demência, e depois dele Phil Rudd, baterista da banda desde 1977, depois de ter sido condenado por posse de drogas.
Sobra em palco da história dos AC/DC o (ainda) elétrico Angus Young. Sem Bon Scott, sem Malcom Young, sem Brian Johnson. Uma história com um desfecho que será preciso aguardar para conhecer. Na sua mensagem aos fãs, Johnson deu a entender que este poderá não ser um afastamento definitivo, ou que pelo menos tentará que não seja. “Não sou um desistente e gosto de terminar o que começo”, afirmou, acrescentando que não deixará a música enquanto ela for possível. “Os médicos disseram–me que posso continuar a gravar em estúdio e eu tenciono fazê-lo.”