"Sim. Foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final. Depois de me ter sido proposto isso pelos outros países", afirmou o ex-Presidente da Comissão Europeia. "Aliás, na altura, com o apoio do parlamento português e com o apoio do Presidente da República de Portugal, o dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava. Foi a única pessoa que eu ouvi antes", acrescentou.
Em entrevista ao Diário de Notícias, o antigo Presidente da República corrige as afirmações de Durão Barroso, dizendo que só foi informado da realização da cimeira dois dias antes e que julgava tratar-se da “derradeira tentativa para a paz”.
“Quando a 14 de março o primeiro-ministro me informou de que tinha sido sondado sobre a sua realização nas Lajes, e de que se tratava da derradeira tentativa para a paz e para evitar a guerra no Iraque, respondi-lhe que, sendo assim, nada havia a opor. Mas fiquei naturalmente perplexo com a súbita emergência daquela questão, tanto mais que mantínhamos contactos regulares, se não diários, e que a mesma nunca tinha aflorado, nem sequer na véspera, aquando da nossa habitual reunião de quinta-feira…”, afirma Jorge Sampaio.
“As diferenças de opinião entre o primeiro-ministro e eu próprio iam muito para além da questão da cimeira, que, de alguma forma, até é apenas um episódio relativamente secundário, não fora o ter atirado Portugal para uma posição acidentalmente mais em destaque e mais diretamente associada ao apoio à intervenção no Iraque. Desde o primeiro momento em que a questão do Iraque surgiu na agenda nacional, no início de setembro de 2002, se tornara claro para ambos que os nossos pontos de vista não coincidiam nem sobre o que era o interesse nacional no caso vertente, nem sobre o papel da Europa, nem sobre a importância dada ao multilateralismo na proteção dos fundamentos da legalidade internacional”, acrescentou.
Jorge Sampaio afirma que na altura decidiu não intervir mais na questão da Cimeira pois “não compete ao presidente nem autorizar ou deixar de autorizar decisões ou atos de política externa, a menos que firam os princípios constitucionais, nem tão-pouco provocar crises ou instabilidade institucional através das suas posições eventualmente divergentes. No que toca à guerra no Iraque, penso que foi verdadeiramente importante opor-me ao envio de tropas porque permitiu a decisiva afirmação do papel efetivo do presidente como comandante supremo das Forças Armadas”.
Para o antigo Presidente da República, “cometeu-se um erro gigantesco com toda a questão do Iraque e a situação caótica que hoje se vive é disso, em grande parte, resultado”. “Quanto a essa cimeira, foi, a meu ver, mais um acidente de percurso do que um momento essencial de um processo que, de qualquer forma, estava já em curso há muito tempo, com ou sem cimeira”, acrescentou.