Em retribuição, o Presidente da República salientou «o espírito de leal cooperação e de bom relacionamento» entre os dois órgãos de soberania. E realçou que, «até este momento, não houve nem forte nem leve dessintonia na cooperação institucional» entre Belém e S. Bento.
Não, não são o Presidente e o primeiro-ministro em que estão a pensar. As frases acima reproduzidas têm dez anos, são de 2006, e foram proferidas por José Sócrates e Cavaco Silva. Recordando melhor o enlevo desses tempos iniciais de delicodoce coabitação, Sócrates chegou a dizer a Cavaco, com a voz embargada: «Gostamos de trabalhar consigo». E o Presidente não se ficava atrás. «Sublinho a coragem do 1.º-ministro nalgumas decisões que têm sido tomadas», elogiava Cavaco, destacando: «Este Governo de José Sócrates revela um espírito reformista».
Avivada a memória sobre como começou, em 2006, o relacionamento institucional entre Cavaco e Sócrates, não vale a pena recordar como terminou, em 2011. Todos nos lembramos desse infausto desfecho.
Volvidos dez anos, o Presidente Marcelo rejeita qualquer hipótese de eleições antecipadas («o país não pode viver sistematicamente em campanha eleitoral»), desculpabiliza os maus números da execução orçamental por ainda virem do Governo anterior, tem «a funda esperança» de que Bruxelas aprove os devaneios irrealistas do Programa de Estabilidade de Centeno, bate palmas a um défice de 2,7%bem acima dos 2,2% prometidos pelo Governo. Costa retribui e enaltece a intervenção «tranquilizadora e moralizadora» do Presidente Marcelo.
Já todos percebemos o registo desta nova e tão afetuosa convivência entre Belém e S. Bento. Falta saber como (e quando) vai terminar.