O ambiente concorrencial do mercado norte-americano tende a promover embates entre gigantes mundiais. A Google compete com o Facebook, a Microsoft debate-se com a IBM e todos eles competem entre si. O setor automóvel não escapa a este clima e o segmento dos carros elétricos vai pelo mesmo caminho. A Tesla está a revolucionar o mercado, mas há sinais cada vez mais evidentes de que vai ter um concorrente de peso: a Apple.
De acordo com a Reuters, a empresa que fez sucesso à escala mundial graças ao iPhone está a investigar como carregar carros elétricos, através de contatos com empresas que produzem estações de abastecimento. Além disso, a empresa fundada por Steve Jobs estará a contratar engenheiros com experiência na área. Para a Reuters, são sinais de que a multinacional americana vai ao encontro dos rumores que correm há mais de um ano em Silicon Valley, de que a Apple quer entrar no mercado automóvel elétrico.
Mas onde a empresa está apenas a preparar terreno com infra-estruturas e software há um outro nome de peso que está a revolucionar o mercado há anos. A Tesla tem já veículos com produção em larga escala e anunciou planos recentes de expansão do negócio – incluindo para Portugal.
Mas o que distingue a Tesla de outras marcas que apostam no segmento elétrico? Aliar modelos desportivos ao design e à tecnologia é o segredo do sucesso de uma marca que, curiosamente, até já foi apelidada como a Apple dos automóveis.
Com cerca de 15 anos de vida, a empresa liderada por Elon Musk esforça-se por surpreender no desenho e no desempenho dos automóveis, embora ainda esteja associada a um segmento de clientes com elevado poder de compra.
Modelo mais barato
Os planos agora são alargar o espectro de mercado, com um modelo mais acessível. Trata-se do Model 3, que apresenta preços mais competitivos mas que só estará disponível a partir do próximo ano. Até lá, se um cliente português quiser comprar um Tesla no mercado nacional, tem de gastar no mínimo 90 mil euros. Mas para isso tem de optar pelo 70D, que apresenta uma autonomia de 442 quilómetros e 262 cavalos de potência.
Com o lançamento deste modelo low cost – deverá ser vendido a partir dos 35 mil dólares (cerca de 31 mil euros) – a marca quer aumentar a produção e vai ao encontro dos anseios do mercado.
«A Tesla precisa de fazer mais dos seus veículos acessíveis a um público mais amplo», considera Michelle Krebs, analista da AutoTrader.com, citado pelo LA times. A marca tem subido as vendas e a reputação nos últimos dois anos, mas quer ir mais longe. Há dois anos, anunciou que queria atingir uma produção anual de 500 mil carros em 2020 – uma meta considerada por muitos analistas demasiado otimista, já que em 2014 tinha produzido menos de 40 mil.
No entanto, as mais de 400 mil reservas do Model 3 vieram dar razão ao presidente da empresa. De acordo com uma carta enviada pelos acionistas, Elon Musk espera produzir entre 100 e 200 mil Model 3 na segunda metade de 2017. E em 2018, a capacidade total de fabrico da Tesla deverá de ser de 500 mil carros por ano. Ou seja, dois anos antes do previsto. O Model 3 garante uma autonomia de 346 quilómetros após cada carregamento e quem reserva o modelo agora tem de entregar uma caução de mil dólares (quase 900 euros) para formalizar a encomenda. Ainda assim, mesmo que estes valores de produção se concretizem, dificilmente a marca conseguirá entregar todos os Model 3 já reservados até ao final de 2018, isto porque as vendas do Model S e do Model X estão a registar um grande crescimento e, por isso mesmo, vão ocupar parte importante da produção.
China em jogo
Com a entrada da Apple no setor, a Tesla terá agora de pensar nos passos que a concorrência está a dar, e não é apenas a empresa do iPhone que lhe pode tirar espaço no mercado. Há uma marca chinesa de carros que pode destronar a Tesla, garantem vários analistas. A LeEco é uma marca de automóveis chinesa especializada no fabrico de motorizações elétricas que anunciou a produção do primeiro automóvel sem emissões e com condução totalmente autónoma. Este é o primeiro investimento da marca nos automóveis, já que até aqui produziu apenas smartphones.
A aposta da empresa chinesa recaiu no modelo LeSEE que, quando foi apresentado ao mercado, saiu sozinho de um contentor e subiu um estrado conduzido pela voz do CEO da LeEco, Jia Yueting, através de um smartphone – uma capacidade quase semelhante à que é praticada pelos veículos da Tesla que, no entanto, não conseguem ainda ser comandados por voz via smartphone.
De resto, o Governo chinês tem lançado vários incentivos às empresas nacionais para desenvolverem soluções ligadas às tecnologias de baterias e de automóveis elétricos. Por isso, é natural que tenha surgido um elevado número de empresas chinesas, que representam um passo de gigante na consolidação da sua presença no mercado e poderão vir a competir de forma agressiva com as empresas estrangeiras.
E Portugal?
Os donos portugueses do carro elétrico Tesla pediram entretanto à marca americana para vir para Portugal. O apelo foi feito através do Twitter por 20 pessoas que se concentraram junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Hoje, pode-se já comprar um Tesla no país, mas quem quiser assistência oficial para o veículo é obrigado a viajar 1200 quilómetros para chegar à oficina mais próxima em Bordéus, França.
Feitas as contas, ida e volta dá 2400 quilómetros. O pedido chegou a Elon Musk, que respondeu «Sim», também através do Twitter. Apesar desta resposta do CEO, fonte da empresa disse apenas: «Continuamos a explorar novos mercados e localizações, mas não temos nada para anunciar atualmente».
* Com João Madeira